Chega de lustrar cadeiras à deriva por aí

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Os sonhos funcionam como aquelas estrelas que brilham no céu das nossas vidas, mostrando-nos a direção para onde deveremos guiar os nossos barcos através do oceano da dureza cotidiana.

E, independente da idade, quando deixamos de sonhar é justamente quando começamos a morrer, pois ignoramos as estrelas e nos conformamos em ficar à deriva, enquanto a vida seguirá seu curso indiferente à nossa presença.

Entretanto, ficar à deriva dá trabalho.

Muito, inclusive.

Afinal, são tempestades para lá, tubarões para cá, falta de peixes aqui, água no barco acolá, sol visceral prali e frio incessamente pracá.

Não é fácil e, cá entre nós, ficar à deriva ou remar seguindo a estrela-guia dá praticamente o mesmo trabalho, pois teremos que continuar remando e enfrentando as mesmas dificuldades, certo?

Pois é.

Agora vamos sair do mar e olhar em perspectiva.

A humanidade parece estar dividida em dois tipos de pessoas: as que estão trabalhando para que os SEUS sonhos se transformem em realidade e as que estão trabalhando para transformar os sonhos dos OUTROS em realidade.

(E isto não tem nada a ver com empreender ou não, pois o seu sonho também pode estar dentro da construção do sonho de uma outra pessoa)

Mas como você já deve ter percebido, a vida nunca esteve fácil para ninguém e, independente de estar no primeiro ou no segundo grupo (ou nos dois), trabalhar incansavelmente é a única certeza que temos desde que somos obrigados (a bem ou a mal) a correr atrás do nosso ganha-pão.

E, então, lá vamos nós trabalhar incansavelmente como se não houvesse amanhã, até porque temos um nome a zelar, prazos para cumprir, metas para bater, clientes para satisfazer e, é claro, precisamos fazer tudo isso (muito) bem feito.

É verdade também que muitas vezes o emprego/trabalho em que estamos até nem é propriamente o dos sonhos de ninguém, o que volta e meia sempre também abre margem para nos questionarmos sobre “como viemos parar aqui?” ou “o quê que estamos fazendo aqui?”, ou a sua variante mais terrível de “o quê que AINDA estamos fazendo aqui?”.

Olhamos determinados para o espelho do banheiro (na empresa ou no home-office) e respondemos enfaticamente que “chega, não nascemos para isso” até que o barulho angustiante das notificacões frenéticas das mensagens chegando no smartphone nos trazem de volta para a realidade nua e crua.

E lá vamos suar a camisa mais um pouco, fazer alguma média para continuarmos “no radar”, engolirmos mais alguns sapos, participar de reuniões que poderiam ter sido um e-mail até que, finalmente, damos o log-off em mais um dia estressante, comemorando tal e qual aquele jogador que acabou de marcar um gol no final de um jogo que o time estava perdendo por 4×0.

Pois é, 4×1, não mudou nada na classificação do campeonato e continuamos ali, no meio do caminho, entre a ameaça de cair para a zona de rebaixamento e a esperança de subir para a zona de classificacção para a Libertadores.

Enfim, vida que segue até o dia seguinte, quando o relógio despertará para mais um dia enfadonho e repetitivo, repleto de desafios que já não temos a menor vontade de encarar, mas como (bons) profissionais que somos, encaramos.

E, invariavelmente, vencemos – dentro do que é possível.

De novo.

E de novo.

O grande problema de toda essa situação não é e nem nunca será o lugar onde estamos, muito menos a posição que ocupamos e nem as tarefas que estamos fazendo, pois elas serão (e deverão ser sempre encaradas como) temporárias.

Às vezes, inclusive, duram (muito) mais tempo do que precisamos ou achamos que merecemos, mas no final das contas (e por mais frase-feita que isto seja) acabam durando o tempo que precisavam durar.

O grande problema, na verdade, é não conseguirmos responder a estas duas questões simples e cruciais: “para onde deveremos ir?” e “o quê, afinal, queremos conquistar?”.

Se a resposta for aquele vago “não sei”, haverá uma tendência rumando ao infinito que estes tipos de pessoas continuarão reclamando para os quatro ventos dos “trabalhos sem vergonha” que são obrigados a fazer e dos “chefes babacas” que são obrigados a aturar.

E, o que é ainda pior, se não possuem a menor ideia do que deveriam estar fazendo, de como o trabalho atual será útil para os objetivos futuros e muito menos para onde deveriam ir, sabe o que terminarão fazendo?

Pedirão demissão ou acabarão demitidos, arranjarão outros “trabalhos sem vergonha” para fazer e com outros “chefes babacas” para aturar.

E assim será até o dia em que finalmente se aposentarem, quando então terão todo o tempo do mundo para comerem amendoim e jogarem baralho na pracinha, recordando para os amigos dos “causos” com todos os “chefes babacas” que elas tiveram que aturar e dos “trabalhos sem vergonha” que foram obrigadas a fazer ao longo de toda uma vida.

Uma vida bem cheia, inclusive, porém vazia, né?

Pois é.

É aquela velha história de passar a vida LUSTRANDO as cadeiras por aí, sem perceber que de nada adiantará ficar pulando de galho em galho, ou navegando à deriva, porque na verdade só estará mudando o problema – no caso, a própria pessoa – de lugar.

Enquanto não voltarmos a sonhar, não enxergaremos as estrelas-guias que indicam os caminhos que nos levarão até a realização dos nossos objetivos, até mesmo porque muito mais importante do que velocidade é a direção para onde deveremos remar.

Enquanto não descobrirmos o quê de fato nos faz brilhar os olhos (seja na carreira ou empreender com um negócio próprio), permaneceremos à deriva, remando aleatoriamente para lá e para cá, enquanto a vida passa e nos ignora com toda a pompa e circunstância.

E a culpa não é dela.

Por isso que nunca devemos deixar de sonhar e de trabalhar para que estes sonhos aconteçam.

Até porque “chefes babacas” e “trabalhos sem vergonha” continuarão aparecendo em nosso caminho, mas a grande diferença será o papel que eles desempenharão nos filmes das nossas vidas, que poderão ser:

– Atores coadjuvantes, estando lá como escadas necessárias de aprendizado para que consigamos chegar mais fortes e preparados até o próximo nível;

OU

– Atores principais, nos delegando para papéis secundários de meros colecionadores de “causos” para contar para os amigos.

Ao final e ao cabo, a escolha será sempre nossa.

E as consequências desta escolha, também. 😉

Obs. Foto que ilustra o artigo de Katrina Wright , mas a tirinha do Homem Assalariado até hoje ainda não consegui descobrir.

Português que nasceu em Moçambique, foi criado no Brasil, empreendeu em Portugal e agora está de volta ao Brasil para continuar ajudando as pessoas a transformarem o conhecimento em um negócio/produto de valor.

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