Há várias de formas de gerarmos conexão com quem acompanha o nosso trabalho, mas nenhuma é tão forte quanto através das nossas histórias – os famosos “dias de luta, dias de glória” como cantavam os jovens por aí afora.
Desde que sejam verdadeiras, é óbvio, e é sempre importante frisar, pois ali há elementos que geram uma identificação imediata com o nosso público e que, muitas vezes, só entendemos com o tempo ao olharmos para trás.
Na minha, por exemplo, o fato de ter nascido em Moçambique ou ter morado em Portugal, Rio de Janeiro, Niterói, Barra Mansa ou São Paulo, por si só acaba sendo mais uma curiosidade do que qualquer outra coisa, que até pode causar uma primeira identificação com outras pessoas que nasceram ou moraram nesses mesmos lugares.
Entretanto, a identificação se consolida quando conto sobre os desafios que enfrentei em cada um desses lugares, tendo que me adaptar e me reinventar com muita inspiração, criatividade e atitude para conseguir vencer em cada um deles.
E ela fica ainda mais forte quando abrimos o nosso coração e mostramos as nossas vulnerabilidades ao longo desta jornada, pois no mundo real nem tudo são flores e, antes das vitórias, há sempre as derrotas.
E, dentro desse processo de reinvenção permanente, mesclar acertos e erros com doses de vulnerabilidade é o que pavimenta o nosso caminho, embutindo cada vez mais credibilidade e confiança em nós e no que estamos fazendo.
– Ah, Edu, mas a minha história nem é tão legal como a sua…
Sinceramente?
Tanto faz se ela é mais ou menos legal que a minha ou a do seu vizinho, pois o que importa é que ela é a SUA história.
Tenho certeza, inclusive, que ao olhar para trás e fazer este mesmo exercício, você também conseguirá achar o fio condutor da sua jornada e irá se surpreender.
Aliás, cá entre nós, por mais que você ache que a sua história não seja nada legal e nem mereça ser contada, por acaso você já fez algo tão errado na sua vida que acabou te obrigando a passar uma temporada na prisão?
E, se tivesse passado, você teria orgulho e sairia contando isto para todo mundo?
E mais ainda: você consegue imaginar com esta história te ajudaria a trazer novos clientes todos os dias?
Pois é.
Então respira, pega um café, uma água ou um chá e olha esta incrível história de um sujeito chamado Coss Marte (o da foto abaixo), que contei num dos encontros do inspiratiON CLUB e que faz sentido contar por aqui também.
A mãe dele, sem dinheiro e sem perspectiva, saiu da República Dominicana e o levou a tiracolo para tentarem a sorte nos EUA, onde foram morar num conjunto habitacional de um bairro nada simpático em Manhattan.
Cercado de drogas e, graças à explosão do crack, em cada esquina por ali havia um traficante rodeado de viciados e ladrões por todos os lados.
Sem maiores opções e com aquele “dinheiro fácil” circulando por ali, o jovem Coss deu início então à sua carreira empreendedora no mundo do crime, primeiro fazendo trabalhos para os traficantes e, logo em seguida, ele mesmo traficando.
Afinal, de repente muitos brancos de classe média começaram a se mudar para o seu bairro, os telefones celulares estavam ficando mais populares e ele percebeu que vários desses novos moradores tinham dinheiro e poderiam gostar de drogas.
Comprou um terno para se diferenciar, melhorou a linguagem para não parecer um traficantezinho qualquer, e começou a distribuir seus cartões personalizados para estes novos residentes que passaram a frequentar muitos dos novos bares da região.
O serviço era até inovador para a época: a entrega das drogas (o famoso delivery) onde quer que seus clientes estivessem, evitando assim que eles corressem riscos com os bandidos ou com a polícia para entrarem e sairem daquele bairro.
Bastava lhe enviar um sms (mensagem de texto, lembra?) e logo lá ia ele fazer a entrega.
Seu público-alvo adorou a novidade e o seu negócio prosperou: dois anos depois já tinha faturado mais de dois milhões de dólares!
O céu era o limite, mas como tudo na vida tem um preço, logo a polícia o encontrou, prendeu-o e ele acabou recebendo uma pena de quase dez anos na prisão.
E lá foi ele, aos 23 anos de idade, cumprir sua pena, completamente obeso, com o diabetes e as doenças cardíacas batendo à sua porta.
Entretanto, ao invés de ficar com os braços literalmente cruzados e deixar que o ócio forçado e as doenças tomassem conta de si, resolveu começar a praticar uma atividade física.
Como tinha medo de se envolver em confusão com outros bandidos mais antigos (e muito mais fortes) na sala de musculação, acabou pegando algumas dicas de exercícios com um outro detento e assim começou a malhar na sua pópria cela.
Tomou gosto pela coisa, foi atrás de mais dicas com outros detentos e, de tanto ouvir e testar na prática, acabou criando a sua própria série de exercícios, que praticamente não usava pesos nem equipamentos.
E todo este esforço acabou sendo recompensado, pois a sua saúde não só melhorou como ele acabou ficando também com o corpo em excelente forma física.
Após cumprir seis anos de prisão foi liberado para ir para casa, voltando para o apartamento da mãe no mesmo bairro onde viu o seu negócio crescer e a sua carreira praticamente acabar.
Sem emprego, sem dinheiro, com o nome associado ao tráfico de drogas e com um carimbo na testa de ex-presidiário, suas opções eram praticamente nulas, mas ele estava decidido a não voltar para o mundo do crime.
Enquanto pensava sobre o que poderia fazer nesta nova vida e aproveitar a volta da sua liberdade, começou a frequentar um parque ali próximo, pois pelo menos assim continuaria praticando a sua rotina de exercícios para manter a saúde em dia.
E isto começou a chamar a atenção de outros frequentadores que também malhavam por ali, que não só começaram a ficar curiosos sobre aquela série diferente e “sem frescura” de exercícios, como principalmente pelo resultado que estava estampado em seu próprio corpo.
Logo, e graças ao boca a boca, já estava fechando os primeiros clientes como personal trainer, montou um site e então a sua nova carreira explodiu.
O nome?
Isso mesmo, usando o “con” de condenado, vigarista ou bandido.
E, se a recolocação de um ex-detento que quer sair do mundo do crime é muito difícil como ele sentiu na própria pele, então passou a recrutar vários ex-detentos para trabalharem com ele, assim como tudo no seu negócio remete àquele ambiente prisional.
O que a sociedade enxerga como uma mancha gigantesca na carreira e na reputação, e que a grande maioria tentaria esconder a qualquer custo, acabou se transformando justamente na maior fortaleza do Coss.
Ou seja, a jornada típica com a redenção do herói que endossa e vende por si só o seu método diferenciado para quem quer entrar em forma.
Portanto, orgulhe-se da sua história e não tenha medo de contá-la, desde que seja verdadeira (obviamente), pois é isso que dá credibilidade não só para você (e você é a sua marca, né?), como também é a base sólida que sustenta, amarra e ajuda a vender as coisas que você tem feito e que está construindo.
E desconfio que a pior bola fora que você já tenha dado em sua vida provavelmente não tenha chegado ao pés da dele, não é mesmo? 😉
Obs. Foto que ilustra o texto: Attentie Attentie