– Faça o que é importante – eles dizem
– E o que é importante? – você se pergunta.
– Aceitar a realidade – eu digo.
– Oi?!?
Calma.
Respira.
Muito mais importante do que saber ou aprender a definir prioridades e conseguir focar no que deverá ser feito é aceitar a realidade em que você está inserido.
O que não quer dizer que é para concordar com ela – muito pelo contrário, pois aceitar é diferente de concordar, e é somente a partir desta discordância que conseguimos evoluir.
Mas quando não aceitamos, poluimos a nossa cabeça com o que desejávamos que tivesse acontecido e gastamos tempo/energia demais lutando interna e externamente contra essa tal realidade, que continuará lá indiferente à sua opinião.
Aí volta a pergunta:
– Como é que você conseguirá entender o que é realmente importante e focar no que é necessário enquanto está brigando contra esses fatos sobre os quais você não tem nenhum controle?
Pois é, não consegue, mas estranhamente insiste em continuar vivendo assim.
No Livro dos Cinco Anéis, de Miyamoto Musashi, o espadachim samurai que venceu incontáveis lutas – inclusive sem espada – já tinha refletido sobre isso com uma frase sensacional:
O olho que percebe é fraco. O olho que observa é forte.
Quando usamos o olhar observador vemos simplesmente aquilo que está lá – a realidade nua e crua, e então agimos para resolver a situação como ela se apresenta.
Já quando usamos o olhar que percebe, vemos além daquilo que está lá, pois deixamos que as nossas emoções embaralhem a realidade – negando-a, inclusive – e então agimos não necessariamente para resolver a situação, mas para tentar resolver a situação que se criou em nossa cabeça.
Quer um exemplo?
O Ryan Holiday no seu livro O obstáculo é o caminho, do qual aliás reescrevi o trecho acima e me inspirei para escrever este artigo, cita uma frase que exemplifica isso com maestria:
“Isso aconteceu e é ruim”, que é uma frase que contém duas impressões.
A primeira – “Isso aconteceu” – é objetiva, pois trata-se da realidade nua e crua.
Já a segunda – “e é ruim” – é subjetiva, pois é como ela foi recebida e percebida de acordo com o nosso “estado de espírito”.
Os estoicos já pregavam desde o século III a.C. que só conseguimos tomar as melhores decisões quando agimos em cima de três fatores:
- Aceitar a realidade, justamente para observar o que realmente está acontecendo/aconteceu e assim reunir mais e melhores informações;
- Controlar as emoções, pois quanto mais deixarmos elas interferirem nesse processo menos visão teremos (tanto do todo como dos detalhes) – lembra do ditado popular “nunca tome uma decisão quando estiver muito triste e nem muito alegre”? Pois é.
- Concentrar-se no que você pode controlar, pois assim gastará menos tempo e desperdiçará menos energia, tendendo a ser mais eficiente e eficaz no que precisará ser feito.
Colocada desta forma fica claro que quanto mais nos exercitamos no primeiro ponto – aceitar a realidade – por tabela começaremos a controlar melhor as nossas emoções e, a partir daí, ter cada vez mais clareza sobre o que deverá ser feito primeiro, que é o que depende de cada um de nós.
Aliás, sabe aqueles humoristas e palhaços que fazem shows de Improviso?
– Sim, conheço, mas o que eles tem a ver com isso?
A improvisação nada mais é do que um (baita) treino – e um treino para aceitar a… realidade.
– Mas como assim?
Já escrevi um artigo completo sobre isso – esse aqui – mas por hora basta saber que a regra básica do improviso diz que você precisa sempre aceitar o que o outro propuser, pois o show acaba se você se recusar.
Logo, se você estiver atuando comigo e eu disser que você é um piloto de avião estressado, então você passou a ser um piloto de avião estressado e deverá agir como você imagina que um piloto de avião estressado agiria conforme formos atuando.
Repara que não existe o certo ou errado no que você irá fazer, existe apenas o que você deverá fazer dentro desta nova realidade que você já aceitou – e fará o seu melhor com o que estiver ao seu alcance para que o show continue.
Tirando essa lógica do palco e trazendo-a para a vida real, o que muda?
Por que insistimos em não aceitar a realidade, gastando tempo demais e energia à toa para brigar contra o que não conseguimos alterar, enquanto deixamos de fazer o que está ao nosso alcance?
Pois é.
A solução é simples, a execução nem sempre é fácil, mas asseguro: é um caminho libertador. 😉
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Foto da capa: Mohamed Nohassi