Eduardo M. R. Lopes
Outro dia lembrei-me de uma cena no filme “Vingadores II: Era de Ultron” em que o Tony Stark (Homem de Ferro) tentava convencer o Bruce Banner (Hulk) no laboratório a testar uma nova forma para ver o que aconteceria.
O Bruce não concordou, dizendo que já bastava de “e se (what if)?” por conta dos vários problemas que eles estavam enfrentando.
O Stark, então, de forma curta e grossa, retrucou desarmando o companheiro: o “se” é a essência do nosso trabalho.
O estopim para a transformação
Seja na tela ou na vida real, o “e se?” é mesmo a essência de todo o trabalho dos cientistas, mas isso não deveria ser exclusividade deles – muito pelo contrário!
Essa talvez seja uma das perguntas mais importantes da humanidade, uma vez que ela foi e continuará sendo uma das principais alavancas da criatividade, impulsionando o ser humano para combinar o que vê pela frente para criar coisas novas e resolver os problemas.
É também uma poderosa ferramenta de transformação e de descobertas, que mantém o nosso cérebro em permanente estado de ebulição em buscas de respostas, levando-nos muitas vezes a caminhos inimagináveis.
E isto impulsiona o aprendizado e acelera o nosso crescimento, alavancando não só a nossa carreira profissional, como também a nossa vida pessoal.
Entretanto, pôr em prática as respostas encontradas dá (muito) trabalho e, dependendo dos desafios que estamos enfrentando no dia a dia, preferimos inconscientemente a navegação segura pelo mar tranquilo do “ah, não!” do que nos arriscarmos pelas corredeiras do “e se?”.
Recordar é reaprender
Na minha vida mesmo tive muitos exemplos de “ah, não!”, e hoje me arrependo de alguns, que de certo modo acabaram me bloqueando em alguns aspectos.
Mas também tiveram outros “e se?” despretensiosos, sem esta consciência de base para a criatividade que tenho hoje, que me abriram tantas portas e me ensinaram várias habilidades que à época um sujeito tímido como eu ou tinha medo ou nem sonhava em desenvolver.
Um desses “e se?”, inclusive, que fez a minha vida como um todo dar uma grande guinada ascendente, surgiu por conta de um inocente hobby lá nos primórdios da internet.
O ano era 2000 e costumava frequentar o fórum da revista Placar, que era o supra sumo da época, para escrever sobre futebol.
De tanto comentar ali, acabei sendo convidado por um outro participante para escrever artigos semanais sobre o Vasco (mas não apenas sobre futebol) e ajudá-lo na construção de um site que ele estava montando.
Nunca tinha visto o sujeito, não sabia nada de site e nem de programação, mas como já desconfiava que gostava de escrever e isso não me ocuparia tanto tempo, avaliei o “e se?” e fui em frente.
Aprendi um pouco de programação e, com mais um terceiro “sócio” (alô, Maganha!), criamos o CASACA! , que fez bastante barulho na época (e existe até hoje), onde o destaque era justamente os artigos diários que o time de 7 colunistas fixos escrevia (e depois isto virou moda).
Em 8 anos (2000-2008) foram quase 300 artigos escritos e, possivelmente, fui o primeiro colunista esportivo a ter uma lista de distribuição própria (no bom e velho Yahoogroups) com quase 2.000 assinantes.
E como uma coisa puxa a outra, por conta desta experiência acabei convidado pela UFF (universidade onde me formei) para dar algumas aulas (repito: sou tímido) para turmas de graduandos em Administração sobre “essa tal de internet”.
Numa dessas aulas, usei o CASACA! como exemplo e descobri ali, “ao vivo”, que um dos alunos presentes era, na verdade, o tal terceiro “sócio” no site, mas que eu só conhecia por e-mail.
O site ficou tão popular que o próprio Vasco logo viria a nos convidar para montar o seu site oficial, mergulhando literalmente no dia a dia do clube, e daí para lançarmos a versão impressa do Jornal do CASACA! foi um pulo.
Já até me achava um jornalista de verdade nesta vida paralela em que havia me enfiado, e que aquela altura já me ocupava bastante tempo, mas como em qualquer hobby não me incomodava ajudar a editar o novo jornal e nem continuar a produzir material para esses veículos.
E aí veio um grande divisor de águas, quando numa sexta-feira descobrimos que estrearíamos na segunda-feira seguinte um programa na Rádio Bandeirantes AM: o CASACA! no Rádio, que foi provavelmente o primeiro programa oficial de um clube numa rádio no Brasil – ou, pelo menos, no Rio de Janeiro.
Estreamos, o sucesso foi imediato e, alguns meses depois, com um verdadeiro “e sezão”, terminei como o apresentador do programa – já tinha falado que era tímido, né?
Por quase 5 anos, religiosamente toda segunda-feira das 20h às 22h na Bandeirantes AM 1360/RJ, lá estava como o âncora do programa até me mudar para São Paulo por conta de uma promoção na empresa em que trabalhava.
Saía, assim, de vez da vida do clube e também do próprio CASACA!, pois como nunca ganhei um centavo do Vasco (mas recusei várias vezes, inclusive ingressos) e nem do CASACA! (tudo pelo ideal), a decisão de um sujeito recém-casado em optar por uma bela promoção em outro Estado era o caminho mais acertado – e foi.
Moral da história
Não subestime os seus hobbies, sejam lá quais forem, e não dê ouvidos aos que dizem que “isso não te leva a lugar algum”.
Pode até não levar, é verdade, mas você sairá mais fortalecido deste processo se souber utilizar isto a seu favor.
Vejam quantas coisas aprendi nesta “vida paralela” e que foram fundamentais para alavancar a carreira na minha “vida principal”, apenas porque a provocação “E SE eu escrevesse sobre o Vasco na internet?” foi positiva:
– Desenvolvi o hábito e as habilidades de escrita, o que ajudou a me tornar referência no departamento (mesmo não trabalhando na área de comunicação), sendo envolvido em praticamente tudo relacionado ao tema, além de ser convidado para escrever em outros veículos especializados do setor;
– Perdi o medo de falar em público e desenvolvi a habilidade de comunicação, por conta de apresentar tantos programas ao vivo, o que acabou me transformando no porta-voz da empresa para entrevistas e palestras dali em diante;
– Desenvolvi a capacidade de improvisar, de pensar rápido e de montar planos B, C e D, quando os entrevistados não evoluíam os assuntos ou faltavam em cima da hora, pois nesse caso tinha que “criar” assunto para cobrir as 2 horas de duração do programa;
– E aprendi também um pouco de programação, o que facilitou bastante as conversas e os projetos com as equipes de TIs com as quais trabalhei desde então.
Enfim, de lá para cá muita coisa mudou e ainda continua mudando (agora estou em novas frentes em Portugal), mas acho que o grande ganho de toda essa história foi ter incorporado em definitivo o “E SE?” como um hábito de pensamento.
Isso fez toda a diferença e foi fundamental tanto como ferramenta de criatividade para a construção de todos os projetos nos quais participei até hoje, como também para buscar novos caminhos em minha vida.
E SE você também incorporasse o “E SE?” a partir de agora, daqui a cinco anos onde estará e o que terá aprendido?
Permita-se, pois o tempo é curto.
Quer experimentar?
Junte-se a nós!
Insira o seu e-mail abaixo para receber gratuitamente novos artigos!