Os círculos viciosos e virtuosos na carreira e na vida

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Por Eduardo M. R. Lopes

A crise tem atingido os setores econômicos das mais variadas formas e as empresas, em maior ou menor escala, têm sentido o golpe. Entretanto, para que as empresas consigam dar a volta por cima ou comecem a nadarem de braçada em alguns mares de oportunidades que vão se abrindo, mais do que nunca elas precisarão das pessoas, pois serão sempre estas os verdadeiros agentes que promoverão (ou deixarão de promover) as mudanças necessárias para o desenvolvimento e o crescimento sustentável tanto das empresas onde trabalham quanto das suas próprias carreiras e também de suas vidas.

A grande questão é: e quando são as pessoas que estão amarradas dentro dos círculos viciosos no desenvolvimento de suas carreiras? Se elas não conseguem migrar para o círculo virtuoso, como é que conseguirão ajudar estas empresas a migrarem também?

O principal e decisivo passo, e o mais óbvio de todos, é que cada profissional seja sincero consigo mesmo e analise friamente se o trabalho que está desenvolvendo (independente da posição em que esteja atualmente) possui algum significado que seja especial e verdadeiro de acordo com os seus valores e crenças – e aqui destaco os três mais comuns: o prazer em realizar (tanto para ela e como para os beneficiários da atividade), o aprendizado (para que futuramente possa almejar trabalhos com maior grau de responsabilidade), e o desafio (para superar algo bastante complicado e mostrar que o profissional é capaz).

Quando nenhum destes três despontar em primeiro lugar, inevitavelmente surgirá com toda a força a questão financeira, e será justamente neste instante que o profissional perceberá que já está dentro de um perigoso círculo vicioso. Afinal, se ele não visualiza nenhum significado no seu trabalho e acha que deveria ganhar mais porque tem que ganhar mais, o caminho natural será começar a olhar o chefe com cara feia e falar mal dele para todo mundo, gerando assim antipatia e infelicidade no profissional cada vez que os seus desejos (que nem sempre dependem da boa vontade do chefe) não sejam plenamente atendidos. Como ele está infeliz e a “culpa é do chefe”, passará a ir de má vontade para o trabalho e começará a externar esta sua negatividade (contra o trabalho, contra o chefe e contra a empresa) para os demais colegas, ajudando a criar um ambiente não muito saudável (principalmente para ele, pessoalmente falando).

Neste ambiente ruim, ele se colocará na posição de vítima, e todos os demais colegas, que por alguma razão falarem bem da empresa ou dos seus chefes, se tornarão automaticamente seus inimigos. Ele estará cada vez menos disposto a ajudá-los nos projetos que sejam desenvolvidos em conjunto, pois de acordo com a sua lógica irracional, o sucesso dos demais será a razão para que ele seja sempre “prejudicado”.

De uma forma quase matemática, como o seu trabalho passou a ser uma verdadeira tortura, a sua saúde começará a ficar prejudicada, o nível da qualidade dos seus entregáveis começará a deixar a desejar, e aí o seu chefe começará a pegar cada vez mais no seu pé com razão, o que o deixará ainda mais estressado. Além disso, qualquer elogio ou promoção dos colegas aumentará ainda mais o seu sentimento de “vítima”, fazendo com que passe a odiar e a contribuir cada vez menos com os colegas, o que fará com que a qualidade dos seus entregáveis continue caindo, o chefe pegue ainda mais no seu pé e a sua insatisfação com a empresa, com o chefe e com os colegas aumente cada vez mais rápido.

E aí não haverá muita escolha: ou ele será convidado a sair ou sairá antes de receber o convite, mas o pior de tudo é que se não houver uma mudança drástica na atitude, na próxima empresa ele continuará agindo da mesma forma e o final será bem parecido.

Quanto ao dinheiro, não é que ele não seja importante, muito pelo contrário, pois todos temos (ou teremos) uma família para criar e desejos materiais (grandes ou pequenos) a serem satisfeitos, mas a grande questão é que quando ele não estiver mais atrelado ao prazer, ao aprendizado ou ao desafio, e passar a ser a força-motriz da carreira, invariavelmente a aposentadoria chegará e o profissional perceberá o quão vazia foi a sua experiência profissional e quão infeliz foi desperdiçar tanto tempo fazendo várias coisas em tantas empresas que nunca lhe trouxeram felicidade alguma.

Desta forma, quanto mais rápida e sincera for esta autoanálise, e a consequente descoberta do que realmente lhe motiva e lhe dá satisfação, maiores são as chances de achar o verdadeiro caminho que lhe abra as portas para a verdadeira realização pessoal e profissional. E aí a empresa, os colegas, a família e própria saúde agradecerão imensamente.

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