Por Eduardo M. R. Lopes
Outro dia um excelente escritor camarada abriu o seu coração recheado de desilusão.
Ele vinha produzindo uma série de artigos caprichados e muito bons, mas as visualizações estavam baixas.
Você gasta tempo e energia para entregar para o mundo algo de qualidade, com grande valor, e o feedback é quase nenhum.
Desanimador, né?
Sim.
Dá vontade de parar?
Com certeza.
Se você também está com essa angústia presa no seu peito, antes de chutar o balde deixe-me te contar uma rápida história e depois te fazer uma pergunta.
Back to basics
No início dos anos 70, quatro jovens “sem futuro” e que mal sabiam tocar instrumentos musicais resolveram montar uma banda.
Isso num cenário onde o rock com guitarristas de primeira linha como Led Zeppelin, Pink Foyd e Yes ditavam as regras e dominavam o mundo.
Discos recheados de solos de guitarras intermináveis eram o padrão.
Então, além de acharem esse tipo de música cansativa, eles resolveram fazer o tipo de som que gostavam e o que era possível com o quase nada que sabiam.
Músicas com três acordes, que mal duravam dois minutos.
Ninguém individualmente seria “a estrela”, mas o grupo era uma família onde todos adotariam o nome da banda como o novo sobrenome.
Nasciam os Ramones e o punk rock.
O estilo e a música deles foi tão visceral, autêntica e (por que não?) disruptiva na época que logo todos passaram a copiar.
Os Sex Pistols e o The Clash formaram as bandas depois de assistirem a um show deles na Inglaterra e viraram a trilha sonora do movimento Punk, que incendiou o mundo.
E, por onde os Ramones passavam, dezenas de novas bandas dos mais variados estilos musicais iam surgindo.
A essência ramônica do “do it yourself”, que se tornaria o espírito do movimento Punk, viralizou.
Todo esse interesse se refletiu em 4 discos perfeitos gravados em apenas 3 anos.
Outras bandas parecidas e inspiradas neles começavam a vender milhares de discos, a tocar em estádios e a verem suas músicas multiplicarem-se em todas as rádios.
Já eles continuavam tocando em pequenos clubes, os discos não vendiam tanto e as músicas em geral eram ignoradas pelas rádios.
Fracasso?
Não.
Decepção?
Com certeza.
Fama ou influência?
A hora deles, que criaram um estilo que mudou o mundo da música, não chegava de jeito nenhum.
Pensaram em encerrar a banda e se perguntaram o “por quê” valia a pena continuar com aquilo.
Baixaram as expectativas com a clareza que nunca venderiam como um “fenômeno pop”.
Nunca seriam uma banda de estádios.
Mas gostavam da música que faziam, gostavam de trabalhar como músicos, que era um emprego melhor do que eles tinham antes da banda, e que esse espírito punk rock que eles criaram precisava ser preservado.
Seguiram em frente como a sua própria música já conclamava.
Lançaram 14 álbuns de estúdio e fizeram 2.263 shows em 22 anos de carreira (1974-1996).
São citados como influência por 9 em cada 10 bandas de rock (famosas ou não).
De Green Day e Offspring (mais óbvios) passando por Metallica, Pearl Jam e U2 (menos óbvios), só para ficar nas bandas que venderam milhões de discos e que falam sempre deles, a influência é gigantesca.
O U2, inclusive, depois da morte do vocalista dos Ramones, gravou uma música em homenagem a ele chamada “The miracle of Joey Ramone”, que é a que abre o álbum Songs of Innocense.
“I woke up at the moment when the miracle occured
trecho de The Miracle of Joey Ramone
Heard a song that made some sense out of the world
Everything I ever lost, now has been returned
In the most beautiful sound I’d ever heard”
Arrisco até a dizer que 90% dos milhões de fãs do U2 nunca ouviram uma música dos Ramones, mas foi graças aos 4 rapazes do Queens (NY) que o Bono Vox soltou a voz de vez.
E o U2 teve um impacto descomunal na música pop.
Você escreve por quê?
Fama ou influência?
Você tem fome de quê?
Ou melhor, você escreve por quê?
Você escreve e produz conteúdo para virar o U2, vender milhões e ter bilhões de visualizações ou escreve porque é isso que o seu coração manda?
E é através disso, sendo você mesmo como os Ramones sempre foram, que passará a entrar na vida das pessoas que gostam do seu trabalho e assim tentar ajudá-las de alguma forma?
Como no caso do nosso amigo escritor lá do início, o querido Esdras Pereira, que depois nos apresentou um novo escritor talentoso que tinha acabado de fazer uma mentoria com ele.
Perguntei:
– E se esse rapaz “virar” um Bono Vox ou um Paulo Coelho em termos de fama?
Para dormir feliz e realizado é necessário mesmo ter milhões de visualizações e seguidores?
Ou a felicidade está em ajudar na formação de novos escritores (etc…), onde alguns eventualmente até poderão se tornar “fenômenos pop”?
Repito: você escreve por quê?
Este é o segredo do universo particular de cada um.
Na hora em que a resposta para essa pergunta ficar alinhada entre o nosso coração e o cérebro, será justamente aí que acontecerá o que chamo de “estalo ramônico”.
E isto se tornará o combustível que manterá viva a chama que nos dará força, serenidade e alegria para seguir (e curtir!) o nosso caminho até final.
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Eduardo, você é o meu escritor !!!
Nunca deixe de nos prestigiar com suas palavras.
Avante sempre. Bjs
Obrigado, minha querida!
Beijinhos!
Co
Continua escrevendo Eduardo que eu gosto de ler e consertesa outros tantos tbém o fazem porque vc escreve muito bem.
Beijinhos
Obrigado, mãe! 🙂