Por Eduardo M. R. Lopes
O acaso aparece o tempo todo em nossa vida.
Às vezes ele é uma oportunidade disfarçada, outras vezes é uma pista em nosso caminho, que a princípio não entendemos muito bem.
Mas seguimos adiante, com o coração cheio de dúvidas e os bolsos cheios de expectativas, sem enxergar direito um palmo à nossa frente.
Nossa visão está sempre embaçada, onde um misto de sonhos guia os nossos passos e os planos racionalizam as nossas atitudes.
Caminhamos ansiosos pelo sol e pela brisa da vitória, mas é a chuva a nossa fiel companheira durante a maior parte da viagem.
Até que, finalmente, ela desaparece, o sol resplandece e achamos um potinho de ouro ao final do arco-íris.
De repente, o caminho que trilhamos e tudo o que fizemos passa a fazer sentido quando chegamos ali.
Só não sabíamos quando começamos.
Só quando olhamos para trás.
Como agora.
A vida de empreendedor não é fácil, muito menos numa terra estrangeira.
Depois de dois anos de muito trabalho, a brisa da vitória finalmente parecia querer soprar no primeiro trimestre de 2020.
Um importante contrato na mesa para assinar, um grande passo na mudança do patamar da empresa e um segundo semestre de ouro estavam a caminho.
Até que…
Bem, vocês já sabem.
Covid, estado de emergência, para tudo, cancela tudo, volte para o início do jogo.
E o futuro promissor virou um presente duvidoso.
Mas como a moeda tem dois lados, se pelo lado profissional o impacto foi o pior possível, pelo lado pessoal foi exatamente o oposto.
O prazer da escrita, que exceto pelas Cartas que escrevi para a minha filha praticamente havia ficado escondido num canto durante esse período, foi retomado a pleno vapor.
E, o que é melhor, na companhia da minha filha, que escreveu e desenhou como nunca ao meu lado.
Voltei a escrever para o meu blog e Linkedin, retomei a segunda parte do meu livro, escrevi poemas, livros infantis, contos de terror e também criei zines.
Voltei a participar de grupos de discussão no Facebook e comecei a aderir à nova onda de grupos no Telegram.
Quando o Matheus de Souza, Linkedin Top voice e autor do livro Nômade Digital, criou um grupo para os alunos do curso dele, lá fui eu.
E algumas peças perdidas de um quebra-cabeça começariam a se aproximar sem eu perceber.
Corta para 2016
– Matheus de Souza
Tinha o blog circulosvirtuosos.com e, de repente, no painel administrativo do wordpress apareceu o aviso de que outro blogueiro seguia o meu blog.
Vi a foto 3×4 de um jovem de cabelo curtinho, fui no blog dele e a partir daí comecei a acompanhar a bela trajetória daquele rapaz, inclusive fazendo posteriormente o seu curso e lendo o seu livro – os quais sempre recomendo.
– USP
Tinha feito uma palestra sobre marketing para os alunos que participavam de empresas júniores na USP.
Mesmo já palestrando em eventos e empresas desde 2009, aquela volta ao ambiente acadêmico me trouxe a certeza de querer dar aulas como complemento à minha carreira executiva.
E isso entrou no meu plano de carreira compartilhado com o meu gestor na época.
– Murilo Gun
Conheci o Murilo Gun ouvindo o podcast Geração de Valor do Flávio Augusto.
Comprei e pirei na sequência com o curso Reaprendizagem Criativa, mas uma pulga ficou presa na minha orelha ao ouvir um episódio do Guncast em que ele falava sobre como todo mundo poderia ensinar.
Afinal, se eu queria dar aulas, não necessariamente precisava mais ser contratado por instituição de ensino tradicional – eu poderia ser a minha própria organização.
Volta para 2020
Voltando para o grupo do Matheus, ali havia outras feras, como o Dimitri Vieira, que já acompanhava antes até de virar Top Voice de tanto que o Matheus curtia e indicava os seus textos, e com o qual já costumava trocar ideias – mais sobre rock, inclusive, do que propriamente sobre storytelling.
Estava como pinto no lixo produzindo, aprendendo e evoluindo na escrita.
O grupo ia bem até que, num belo dia, o Dimitri também resolveu criar um grupo exclusivo para os alunos do curso dele (este aqui, que a Marinella de Souza descreveu da melhor forma: Carta aberta aos parceiros de escrita. Ou eu amo um grupo)
E, literalmente do nada (acaso?), ele me colocou ali dentro mesmo sem que eu ainda tivesse feito o seu curso – o que pra mim foi uma grande honra.
Comecei a conhecer outros produtores de conteúdo incríveis que estavam rigorosamente na mesma jornada que eu.
Escrevendo, errando, refazendo, escrevendo, publicando, corrigindo, escrevendo, aprendendo.
Começou a haver uma grande troca de aprendizados e incentivos.
Mais pessoas iam se manifestando, mais ajuda havia e mais artigos maravilhosos iam nascendo.
Até o dia em que um escritor que admiro muito, chamado Esdras Pereira, abriu o seu coração desiludido por conta do baixo alcance de ótimos artigos.
Aquilo me tocou profundamente.
Afinal, eu mesmo já tinha parado de escrever por um período.
E agora que tinha voltado a mil por hora, sabia que ele provavelmente iria se arrepender de dar um tempo se levasse apenas essa questão do alcance em consideração.
E então mais uma peça chegava para começar a dar sentido à história.
Nos grupos em que participo, nunca gravo áudios, pois não gosto muito de falar.
– Ôpa, mas por que diabos você falava pelos cotovelos quando apresentava o programa de rádio? E dava entrevistas? E fazia palestras? (Leia Por uma vida mais criativa com mais E SE? e menos AH NÃO!)
Ok, corrigindo: prefiro escrever do que falar. 🙂
Mas naquela hora, ali no meio da rua, apenas quis ajudar dando uma contribuição para que um escritor talentoso não desistisse.
Respirei fundo e gravei um áudio encorajando-o, usando como exemplo a história que sempre cito desde que comprei o disco Rocket to Russia no final dos anos 80: a dos Ramones.
Por mais inusitado que seja, ele e o grupo gostaram dessa analogia que fiz (e isto virou o artigo Fama ou influência: você escreve por quê?).
E, por mais incrível que pareça, o Dimitri pegou esse áudio, juntou com outros dois, e transformou isso numa aula extra do seu curso de Escrita Criativa & Storytelling.
Uma A U L A.
Com punk rock e Ramones bem ali no meio.
Mesmo sabendo de cor e salteado as falas, vi umas dez vezes seguidas essa aula.
Senti-me como um daqueles moleques do filme Escola do Rock assistindo ao professor Jack Black falando sobre isso o dia inteiro.
Aquilo acendeu uma luz e virei, literalmente, o tocha humana.
Não conseguia mais dormir.
Escrevi uns rascunhos e comecei a gravar um piloto só de áudio, mas ficou horrível pois o fio da meada estava solto.
Falei com o Dimitri sobre a “doideira” que estava preparando e a empolgação dele foi como se eu tivesse dito que estava com um crachá de livre acesso para o próximo show do Frank Turner, que é um dos seus ídolos.
Parei por um instante, e só por um instante pensei no que os outros poderiam pensar, afinal daqui a menos alguns anos atingirei (pasmem!) a barreira dos cinquenta anos.
E ouvi um diabinho dando um esporro na minha orelha esquerda:
– Com toda a sua experiência em marketing e produtos, com todo o seu background em grandes empresas, você quer mesmo falar sobre essa “coisa adolescente de punk, Ramones e afins”?
Mas antes que eu pudesse responder, o anjinho que habita a orelha direita já estava falando:
– Deixa ele para lá, pois você não respira e escreve sobre criatividade? Você não diz que não basta pensar fora da caixa, mas que é necessário quebrar a caixa (vide Como aprender melhor e fazer as pessoas sentirem-se especiais?) Vai querer fazer algo comum como qualquer um?
Sorri e lembrei de uma frase do Lemmy (Motorhead):
Se você acha que está velho demais para o rock, então você está.
Aí o Neil Young entrou cantando em minha cabeça:
People my age they don´t do the things I do.
Caiu a ficha que a maioria das pessoas que conheço nesta idade sequer possuem um blog e mal se limitam a postar vez ou outra alguma foto no Instagram.
Até fiz uma pesquisa outra dia sobre isto e as respostas campeãs foram: falta de tempo (leia 4 passos para transformar o tempo morto em tempo útil e começar a produzir conteúdo) e medo de julgamento.
Mas o que seria melhor do que o punk para ensinar sobre como superar o medo do julgamento?
E, afinal de contas, isto tudo é sobre ajudar as pessoas, né?
Então a música dos Ramones explodiu nos meus ouvidos:
Next time, I´ll listen to my heart
Next time, I´ll be smart
Da próxima vez, não.
Agora.
Afinal, como o Zack canta numa das músicas do Rage Against the Machine:
What better place than here?
What better time than now?
Em menos de 48 horas, já estava com tudo escrito e montado.
Um curso que tem como fio condutor a incrível carreira dos Ramones para mostrar como criar conteúdo autêntico na internet sem se preocupar com que os outros vão pensar.
As aulas deveriam ser curtas, mas energéticas, como um bom e velho punk rock, num curso de duração total que não poderia se estender por mais que um disco dos Ramones.
Fazer você mesmo, do seu jeito, no seu tempo e com o que estiver disponível no melhor estilo punk possível: com atitude e com coração.
Improvisei um pequeno espaço numa cave lá de casa e, em dois finais de semana, gravei o curso completo.
Não comprei nada, aproveitei todas as ferramentas que estavam disponíveis (foto acima).
Não sabia editar vídeos direito, e por isso resolvi que os vídeos deveriam ser gravados “de uma tacada só”, como se fosse um show ao vivo, para ter só que cortar o início e o final.
Exceto por um breve depoimento ou outro, nunca tinha gravado nada por tanto tempo.
Por isso ensaiei várias vezes e gravei outras tantas até conseguir achar o tom correto, antes de fazer as gravações finais.
Exausto, ao final parecia mesmo que tinha acabado de fazer um show e me atirei na cama como quem se atira do palco para cima do público.
A entrega e a paixão foram absurdas como há muito tempo não sentia.
Senti-me mais vivo do que nunca.
Mandei pro Dimitri e perguntei se ele não queria participar com uma aula extra sobre autenticidade baseado neste artigo espetacular que ele havia escrito ->Tudo em nome dos cliques: até que ponto vale se esforçar para atender as expectativas do seu público?
Ele viu o curso, curtiu e logo enviou a aula.
O sonho já era mais real do que jamais imaginei.
O diabinho voltou a perturbar na minha orelha:
– E quanto será o curso?
– A princípio, nada; depois eu penso nisso.
– Nada?!?
Pois é.
Em gratidão à toda generosidade do Dimitri e a esse incrível grupo de Escrita Criativa & Storytelling, fiz questão de lançar o curso assim mesmo: grátis.
Foi o meu presente de Natal, lançado na semana do Natal, que continua grátis para quem se interessar pelo assunto até o próximo domingo 3/01/2021 (clique aqui).
Sem pegadinha e com a aula bônus do Dimitri Vieira.
Now who’d have thought that after all,
Something as simple as rock ‘n’ roll would save us all.
Pois é, como canta o Frank Turner nesta canção, quem imaginaria que o rock´n´roll (ou o punk rock) salvaria a minha vida e, de certa forma, ajudaria também outras pessoas?
Até agora 300 pessoas já se inscreveram, mas muito mais importante que a quantidade de alunos inscritos, são os incríveis feedbacks que tenho recebido.
Isto, sim, trouxe um novo sentido à minha vida.
Um sonho materializado através de algo único e de valor que está ajudando outras pessoas a criarem conteúdo original para também darem sentido aos seus sonhos.
No final do arco-íris, esse é o verdadeiro pote de ouro que acabei encontrando neste caminho.
E que talvez tenha iniciado quando gravei o áudio pro Esdras.
Ou quando entrei no grupo do telegram.
Ou quando conheci o Murilo, o Matheus e o Dimitri.
Ou quando criei o blog.
Ou quando comecei a fazer palestras.
Ou quando comecei a trabalhar.
Ou quando comecei a ouvir os Ramones.
Ou quando, simplesmente, comecei.
E me permiti.
E conheci pessoas incríveis.
E fui em frente.
Com atitude e com o coração.
Do jeito mais punk possível.
O B R I G A D O & F E L I Z 2021! 🙂
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Parabéns filho por tudo que vc escreveu e pensa e que a vida continue a te sorrir com o teu trabalho e que Deus continue a guiar e iluminar o teu caminho sempre.
Bjs
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