Carta aberta de um pai para outro pai

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Por Eduardo M. R. Lopes

O Lucas do blog Improvivação, que acabou de ter o segundo filho, estava cabisbaixo e angustiado com as demandas da nova rotina que mais um bebê impõe na casa e os impactos que isto gerava nos projetos que ele estava tocando.

Abaixo segue a “carta aberta” que escrevi para ele no grupo de Criatividade no qual participamos e que também poderá ser útil para todos os pais que estão passando pela mesma situação.

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Lucas,

Como você já percebeu, ser pai é o nível extra-hard da aceitação porque temos que ter a plena consciência e aceitar de peito aberto o fato de que criar os filhos e educá-los é uma das tarefas mais difíceis que há neste mundo. Ponto. E quando digo aceitarmos este fato não quero dizer que tenhamos que aceitar também todas as atitudes dos filhos, pois aí estaremos na verdade deseducando e criando monstros mimados como já há tantos por aí e não precisamos prestar este desserviço à humanidade.

O seu relato de dificuldade, como já ouvi tantos de outros pais, foi exatamente o mesmo que vivi: o casal em terra estrangeira, longe da família e sem ninguém do círculo íntimo de amizades para apoiar com o que quer que fosse. E ainda tivemos um outro agravante: minha filha nasceu com um grave problema de refluxo, o que nos obrigava a ficar em pé com ela no colo por 20 minutos após CADA mamada. Como os bebês mamam em média a cada 3 horas (seja dia ou seja noite), você já pode imaginar o tamanho do desgaste que foi viver por mais de um ano levantando 3 ou 4 vezes durante TODAS as noites para fazer este ritual – e isso, é claro, num “dia normal”, pois ainda havia as sessões de vômitos (quase sempre de madrugada) que ainda nos obrigava a limpar o chão, trocar as roupas e dar banho (nela e na gente), além de outros pernoites no hospital.

Bem que diziam que as noites de sono jamais seriam iguais, mas também não precisava exagerar, né? Eu, que até então precisava dormir bastante para recuperar as energias e enfrentar com todas as forças mais um novo dia de trabalho, após o primeiro mês com essa nova rotina achava que não iria durar mais um mês na empresa, pois me sentia tal e qual um verdadeiro zumbi, com as olheiras cada vez mais fundas e com a bateria do meu corpo arriando cada vez mais cedo.

Foi aí que comecei a perceber mais claramente o conflito interno que havia dentro da minha cabeça, mais precisamente entre a vida que a gente gostaria de viver e a vida que de fato estávamos vivendo, e aí a ficha caiu. A vida que a gente gostaria de viver não poderia ser vivida AGORA, mas agora deveríamos sim aceitar esta nova realidade (não fomos nós que queríamos ter uma filha?) e trabalharmos da melhor forma possível dentro dela até que esta fase fosse superada para que então mudássemos de patamar. Foi difícil, emocionalmente e fisicamente desgastante para caramba, mas o fato é que sobrevivemos a quase três anos nesse ritmo (com outras novas variáveis que foram aparecendo no caminho) e hoje damos risadas recordando tudo o que aconteceu.

E quanto aos projetos paralelos que estávamos construindo? Essa também é a sua angústia, pois você está com tantos projetos bacanas que estão começando a deslanchar e tomando cada vez mais tempo, mas o problema é que no início somos apenas um só e aí temos que priorizar. E priorizar é abrir mão momentaneamente de algumas coisas para focarmos em outra. Naquele momento defini que a minha prioridade era o absoluto bem estar da minha filha e da minha esposa, pois quanto mais rápido ela ficasse boa, mais forte ficaria a nossa harmonia e mais rápido poderíamos retomar os nossos projetos – e assim, após essa clareza da situação, transformei todos os projetos que não estivessem relacionado com este foco principal em secundários.

Parece besteira, mas isto é uma mudança violenta de mentalidade. Vamos pegar por exemplo o livro que agora estou acabando de escrever. Se antes eu me programava para escrever um capítulo durante a noite na segunda-feira e a minha filha necessitasse de atenção especial além do normal, ou ainda era o início de uma longa birra justamente naquela noite, então involuntariamente eu ficava irritado porque “ela não me deixava evoluir com o meu livro”. E isso angustia além da conta, gera uma grande frustração pessoal e também atrito entre o casal, além de uma certa culpa justamente com quem não tem nada a ver com a história, pois a criança ainda é um ser em formação e quem forma somos nós – pai e mãe. Mas se a prioridade era ela e resolver aquela situação, meu objetivo para quando chegasse em casa então era estar preparado para mais uma longa noite de vigília e para as eventuais birras, que era o “worst-case scenario”. Se tudo desse certo, ela estivesse bem e começasse a dormir tranquila, aí sim é que me dedicava a escrever mais um capítulo.

Essa mudança de mentalidade e de atitude foram libertadoras, pois aprendi como nunca a valorizar o tempo, aprendi novas técnicas para acelerar o que podia quando tudo “desse certo”, e me senti grato também quando tudo dava errado, pois era o momento que eu tinha para aprender (tanto com ela quanto com a minha esposa) e também ensinar. E, olhando pra trás, foi a melhor coisa que fizemos, pois ela apesar do gênio fortíssimo, respeita a família e vem sendo elogiada com relação à educação, e o aprendizado e o crescimento que tanto eu como a minha esposa tivemos foram fantásticos, e que agora estão ajudando muito nessa minha nova fase.

É certo que com dois filhos tudo é duas vezes mais difícil, mas volte a ficar de peito aberto para encarar essa nova realidade da mesma forma que estava quando nasceu a primeira, e não se culpe de forma alguma se isto está “atrapalhando” os seus projetos – muito pelo contrário. Daqui a mais algum tempo você vai ver que esta nova fase só serviu para enriquecê-los ainda mais e, mesmo que agora eles precisem andar num ritmo mais lento (mas que continuem andando), o ponto principal é que você também terá crescido de forma exponencial sem ainda se dar conta. E quando você cresce e se fortalece em cima de uma base sólida como é a sua família, todos ganham, todos vivem mais felizes e os objetivos são conquistados com muito mais determinação.

Não se culpe, apenas observe sobre uma nova perspectiva e você vai ver que as peças desse novo quebra-cabeça apenas se encaixam de uma forma diferente, mas acredite em mim: elas se encaixam, ok?

Grande abraço e improVIVA! :-D)

Eduardo M. R. Lopes

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Português que nasceu em Moçambique, foi criado no Brasil, empreendeu em Portugal e agora está de volta ao Brasil para continuar ajudando as pessoas a transformarem o conhecimento em um negócio/produto de valor.

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