– Problemas? Tô fora! Eu quero é sossego!
Como não, né? 🙂
Afinal, num mundo onde já temos tantos problemas para resolver e tudo parece ser importante e para ontem, todo mundo quer mesmo é ligar o “modo Tim Maia” e ser feliz.
E o mais curioso é que deveríamos agradecer todos os dias por termos problemas para resolver, pois são eles que garantem o nosso sustento, não é mesmo?
Sem problemas, sem trabalho, sem remuneração – e aí, sim, isto poderá virar um problemaço.
Mas desbalanceamento de tarefas, desorganização e síndrome de querer abraçar o mundo à parte, praticamente tudo de bom e útil que conhecemos foi criado para resolver algum problema.
Logo, ter problemas é (muito) bom – e, quem abraça isto como estilo de vida (resolvendo-os, obviamente), costuma ter sucesso no que se propõe a fazer.
Como a incrível história do Lance Cheney, que era o CEO da centenária Braun Brush, e que contei no primeiro encontro do inspiratiON CLUB.
Aliás, a fundação da Braun Brush pelo seu bisavô é ainda mais incrível.
Emanuel Braun era um jovem rapaz que migrou da Alemanha para Nova York em 1864 e que, como tantos outros, acabou arranjando emprego onde foi possível.
No caso dele, como limpador das garrafas de leite, pois naquela época todo o leite fresco ainda era vendido e distribuído através de garrafas.
E como todo mundo precisava das garrafas, pessoas como o Emanuel eram contratadas para pegar essas garrafas, enfiar um pano para tirar o mofo e os restos de leite azedo, deixando-as limpas e brilhantes para receberem leite fresco e então voltarem para serem vendidas no mercado.
Desnecessário dizer o quanto de fedor eles precisavam encarar e a trabalhareira que dava para limpar (muito bem) uma garrafa para deixá-la em perfeitas condições.
Pois é.
Até que o Emanuel se incomodou tanto com esse problema, e como gostava de observar e criar coisas, enquanto limpava as garrafas sua cabeça vivia imaginando algo que pudesse facilitar e agilizar esse trabalho monótono e estressante.
Vale lembrar que a escova de cabelos havia sido patenteada em 1854, mas as suas aplicações práticas ainda eram cheias de problemas.
E, de tanto criar e testar vários formatos de escova que pudessem ser úteis para limpar essas garrafas de leite, finalmente chegou o dia em que ele descobriu o formato de cabo ideal, com a cola ideal e com os tipos de cerdas ideais.
Sua escova não só conseguia fazer uma limpeza melhor e muito mais completa, como suas cerdas e o cabo aguentavam muitas lavagens.
Agora já era possível limpar dezenas de garrafas de uma forma melhor e muito mais rápida, pois o que demorava um dia para limpar algumas dezenas delas, graças à sua inovadora escova essas mesmas dezenas passaram a ser limpas em apenas uma hora.
Protótipo testado com sucesso, logo foi oferecer o seu produto para as outras leiterias, recebendo as primeiras encomendas e, então, pediu demissão para criar a sua própria fábrica de escovas em 1875: a Braun Brush.
E foi um sucesso não só com este pioneiro tipo de escova, mas também com outros tipos de escovas que começaram a ser criadas a partir de outros problemas encontrados.
O mercado expandiu-se e a empresa conseguiu surfar toda a onda do grande período de crescimento econômico dos Estados Unidos, onde quem tinha fábricas passou a ter ganho de escala, e então baratear o custo e vender cada vez mais (volume) passou a ser a regra de ouro deste jogo.
Até que com o passar do tempo o mundo foi mudando, a concorrência se acirrou, as linhas de produção de escovas praticamente viraram commodities e a China entrou com força nesta brincadeira, fazendo várias das empresas deste setor quebrarem.
E foi esse o cenário que o Lance, que trabalhava lá desde jovem nos anos 80, teve que resolver quando assumiu a direção nos anos 2000.
Afinal, como não quebrar (o que parecia inevitável) vendendo commodities num mercado em que a briga por custos já tinha chegado ao limite?
Resposta: não vendendo mais commodities.
A inspiração já estava ali através do seu bisavô: aquela empresa havia sido criada por causa da paixão dele para resolver um problema que o incomodava e que ninguém mais sabia ou não queria resolver.
Com isto em mente, começou a questionar: quem mais estaria precisando de escovas para resolver problemas tão específicos que nenhuma outra fábrica iria querer fazer porque teria que criar uma nova linha de produção sem conseguir vendê-las de forma massiva?
Pois é, paixão na veia por problemas específicos e não escaláveis que nenhum concorrente toparia encarar.
Foi isto que permitiu à Braun Brush não só se reinventar, como também crescer num enorme oceano azul e, principalmente, lucrar como nunca antes em toda a sua história.
Não era mais “quais as empresas e pessoas que poderiam comprar as nossas escovas?”, e sim “para o problema que você tiver, nós conseguimos criar uma escova para resolvê-lo”.
E das escovas especiais usadas em usinas nucleares às das fábricas de batatas-fritas, passando pelas escovas utilizadas pelos rovers Spirit e Opportunity para limpar pedras no solo de Marte, lá seguem eles firmes e fortes com o seu posicionamento único, combinando o que já sabem com o que poderá ser possível fazer para solucionar uma série infinita de problemas complexos.
Um de cada vez e, muitas vezes, um por cliente.
Com (muito) lucro, obviamente.
Problemas?
TÔ DENTRO! 🙂
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Conforme mencionei, esta é uma das histórias que fazem parte do livro A economia da paixão: as novas regras para prosperar no século XXI de Adam Davidson, que foi o livro que inaugurou as apresentações no primeiro encontro do inspiratiON CLUB (foto acima).
Estes encontros acontecem via Google Meet, sempre na primeira terça-feira de cada mês às 20h (horário de Brasília), sendo que apenas a minha apresentação sobre os pontos mais importantes do livro é que fica gravada, podendo ser assistida à vontade até a data do próximo encontro.
Para conhecer mais detalhes e fazer parte do clube que valoriza a sua inteligência e o seu tempo, basta assinar um dos planos pagos desta newsletter clicando aqui. 😉