Por Eduardo M. R. Lopes
Sabe esses livros que você, como quem não quer nada, pega na estante da livraria, dá uma lida na contracapa, vai para o prefácio e então, graças a um telefonema providencial da sua esposa, percebe que já se passaram quase duas horas, mas você ainda continua ali sentando no chão com cara de tonto como se o tempo tivesse parado?
Pois é, esse cara fui eu quando entrei na livraria decidido a comprar a biografia da fera Elon Musk (Tesla e Space X), mas como ao lado dele na estante estava a autobiografia “A marca da vitória” do criador da Nike, Phil Knight, pensei comigo mesmo: “já que vou levar o do Elon, deixa eu dar uma olhada neste do Phil só para ver qual é” – e aí não o soltei mais!
Ou melhor, soltei-o agora para escrever este artigo com a mesma empolgação que aquele jovem corredor amador recém-formado resolveu ir do Oregon (EUA) até o Japão com a sua “Ideia Maluca” na cabeça, onde conseguiu os seus primeiros pares de tênis para vender no porta-malas do seu carro e, então, fazer história.
– Espera aí, Eduardo, se o Phil era corredor e atleta, o quê que ele poderia ter em comum com o Lemmy, que além de sedentário, quando não estava cantando e tocando baixo, bebia e fumava sem parar?
Aí é que está a graça da vida e dos negócios.
Para quem gosta de esportes, é praticamente impossível não cruzar por aí com aquela logomarca inconfundível ou não ter algum item da Nike dentro do seu armário, afinal ela é a maior fabricante de artigos esportivos do planeta.
Para quem gosta de rock, é praticamente impossível não reconhecer aquela voz rouca e a sonzeira inconfundível do Motorhead, que é uma figurinha carimbada e titular absoluto em qualquer lista das 10 bandas mais influentes de todos os tempos – seja na minha lista ou na lista feita por qualquer grande nome do rock que você consiga se lembrar.
Se a Nike começou a surgir a partir de um trabalho de conclusão do curso de graduação feito pelo Phil, o que sem dúvida foi um ato nobre, por outro lado o Motorhead surgiu após a demissão do falecido Lemmy Kilmister da sua antiga banda por abuso de drogas, o que diga-se de passagem não foi nada nobre.
Entretanto, por incrível que pareça ambos possuíam duas características em comum que os norteou para transformarem tanto a empresa como a banda em verdadeiros ícones mundiais em seus respectivos segmentos:
- Paixão verdadeira como pilar principal do negócio
Quando Phil descobriu a corrida, foi amor à primeira vista; mas apenas depois de formado é que caiu a ficha de que o esporte e a performance eram tanto o propósito como o combustível altamente inflamável para levar adiante a sua “Ideia Maluca”, que era vender tênis de corrida.
No fundo, no fundo, ele até tinha opções e andou trabalhando com outras coisas, mas a sua paixão falou mais alto, ele acreditou nela e a fez acontecer.
Quando o Lemmy descobriu a música, também foi amor à primeira vista – principalmente quando se ligou que um violão na mão atraía dezenas de garotas (como um amigo da escola que mal sabia tocar), e assim teria tudo o que precisava para ser feliz. E a demissão de sua antiga banda (Hawkwind), que até fazia relativo sucesso na década de 70, foi o estopim para criar um tipo de som mais cru, agressivo e único, diferente de tudo o que era feito até então.
No fundo, no fundo, ele praticamente não tinha outras opções, sua vida era música e então agarrou sua paixão com unhas e dentes para continuar vivendo dela até o fim (literalmente).
- O que quer que aconteça, não pare.
Phil era um corredor e, no prefácio intitulado Alvorada, ele fez um relato magistral de apenas 5 páginas sobre como numa dessas corridas ele descobriu o seu propósito de vida e também achou o conselho que ele deu a si mesmo e que seguiu a vida inteira.
(se você não quiser comprar o livro ou só estiver em dúvida, sugiro que leia apenas o prefácio quando estiver em alguma livraria)
Aliás, mesmo após passados mais de cinquenta anos, ele continua certo de que este ainda é o melhor e o único conselho que alguém possa dar, e por isso faço a transcrição literal abaixo:
“Deixe que todos chamem a sua ideia de maluca… apenas continue. Não pare. Nem pense em parar enquanto não chegar lá e não pense muito sobre onde fica esse “lá”. O que quer que aconteça, não pare”.
E ele não parou. Contra tudo e contra todos, num mundo pós-guerra, ele cruzou o planeta para encontrar os “inimigos” japoneses lá na Terra do Sol Nascente para comprar os seus primeiros pares de tênis e, quando voltou, não parou mais até conseguir montar o que viria a se transformar num verdadeiro império da indústria esportiva.
Para ele, se o empreendedor tem paixão pelo que faz e acredita na sua capacidade e nas suas ideias (malucas ou não), não deverá parar por nada, tentando sempre e de tudo até que os seus objetivos sejam alcançados.
E o Lemmy não só acreditava nisso, como também tinha mesma atitude e só acabou parando obrigado por conta de uma “força maior”, já que veio a falecer no meio de uma turnê mundial, mas o icônico Motorhead já estava consolidado como uma das maiores bandas de rock de todos os tempos.
Ele costumava dizer que o que mantinha a banda viva era o instinto de sobrevivência, pois enxergava a banda como um animal em permanente caçada – e que por isso mesmo deveria estar sempre em movimento e nunca acomodado, caso contrário morreriam de fome.
Dito e feito: se era para viver da música, então eles deveriam gravar discos e fazer turnês incondicionalmente, alcançando desta forma uma regularidade impressionante de 22 discos de estúdio lançados em 40 anos de banda – sendo que o último disco, inclusive, havia sido lançado meses antes do Lemmy falecer em dezembro de 2015, obrigando assim a banda a encerrar oficialmente as atividades, mas a marca continua tão conhecida, lucrativa e forte quanto antes.
A moral de toda esta história é que quanto mais vamos conhecendo e entendendo as cabeças que estão por trás de marcas que se transformaram em verdadeiros ícones mundiais, independente do segmento de atuação e da personalidade de cada líder, no fundo no fundo estas duas características parecem fazer parte da base fundamental de todos eles para conseguirem realizarem esses grandes feitos.
-Ah, Eduardo, mas se eu tiver paixão e botar a mão na massa de verdade eu também criarei algo grandioso como eles?
A resposta é simples: se não tiver essas duas características como base, certamente não; porém, se tiver, há uma chance (baixa, mas há) de que isso sim aconteça, pois ainda há muitas outras variáveis como talento, determinação e criação/aproveitamento de oportunidades (por exemplo), que influenciarão diretamente para que o seu negócio chegue a atingir um patamar realmente cinematográfico.
É difícil, mas não é impossível – e será sempre melhor ter uma chance do que não ter chance alguma, né?
Em tempo I: Clique aqui para conhecer mais sobre o livro do Phil Knight, clique aqui e clique aqui para ver duas entrevistas (CBS e Fox) em inglês dele falando sobre o livro.
Em tempo II: Clique aqui para conhecer o livro com a biografia da banda Motorhead e clique aqui para assistir ao documentário “Lemmy”.
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