Quando o lugar bom em que deveria estar não é exatamente aquele em que você está pensando

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Por Eduardo M. R. Lopes

“Para pra pensar se esse é o teu lugar
Aquele bom em que deveria estar
Presta atenção só no som do mar
Que te conecta com Jah”
Pitty

Olhando pela janela do carro para os surfistas no mar lá fora, fico me perguntando por que esse bom lugar em que deveríamos estar é sempre lindo e poético.

Aquela imagem construída como resposta para alguma insatisfação que habita dentro de nós.

Já o lugar onde precisamos estar é sempre feio e caótico.

É a vida real nua e crua nos esmagando, pressionando e nos dando um xeque-mate atrás do outro.

E, por incrível que pareça, o melhor lugar em que poderíamos estar talvez seja justamente esse.

O olho do furacão.

Como a zona da arrebentação, com aquele forte espumeiro desafiando os pulmões, braços, pernas e, principalmente, a cabeça dos surfistas que lutam como podem para tentarem chegar lá fora.

É aí que aprendemos e nos fortalecemos para mudar de nível, e assim conseguirmos entrar em outros mares com ondas cada vez maiores.

É no olho do furacão onde o sucesso começa a ser construído

Mesmo que muitas vezes só consigamos enxergar isto quando estivermos lá fora e olhamos para trás.

Como os Beatles.

Após formarem a banda, entre idas e vindas de carro para Alemanha, eles passaram dois anos tocando em Hamburgo.

Quando estavam por lá, ficavam amontoados em pulgueiros suspeitos, fazendo shows diariamente por até 8 horas seguidas em locais de todos os tipos.

Muita banda iniciante e com jovens cheios de disposição, seja pela grana, pelo ideal ou pelos dois, não teria aguentado um esquema como esse em tais condições.

Mas eles não só conseguiram atravessar aquela zona de arrebentação, naquele mar altamente revolto, como depois ainda conseguiram alcançar o sucesso numa dimensão poucas vezes vista até hoje.

E com o “estouro” da banda, o ritmo ficou ainda mais alucinante: precisavam lançar compactos a cada três meses, gravar discos a cada 6 meses, fazer shows na Europa e Estados Unidos, apresentações em tvs e rádios, infinitas entrevistas, sessões de fotos e dois filmes num ritmo nunca visto até então na indústria da música.

Lembrando que hoje um artista já sabe que, se a sua música fizer sucesso, uma rotina parecida deverá aparecer em seu caminho.

Naquela época, não.

Tudo era novidade, pois eles eram a novidade que o mundo de repente queria conhecer.

E, tão rápido quanto eles chegaram ao topo, também poderiam muito bem ter acabado de forma meteórica logo no primeiro disco, como cansamos de ver com tantos outros artistas de lá para cá.

Mas eles não só superaram tudo isso numa boa, dando uma verdadeira aula de profissionalismo para todos os que vieram depois, como construíram uma carreira sólida e consistente.

Como eles próprios e as pessoas próximas mais tarde assumiriam, eles só conseguiram sobreviver e atravessar a “explosão” e o auge da beatlemania justamente por causa daquela fase hardcore que haviam passado em Hamburgo.

Aquilo os afiou na forma como tocavam, na forma como compunham, na forma como se relacionavam entre si e na forma como se portavam.

Quando o jogo virou e as condições melhoraram, mesmo com o ritmo e a pressão tendo aumentado ainda mais, eles tiraram quase que de letra.

Já tinham aprendido como atravessar a zona da arrebentação num mar gigantesco.

O melhor lugar em que poderiam estar foi justamente quando estiveram no olho do furacão sendo apenas mais uma banda qualquer.

Onde eu e você, inclusive, podemos estar justamente agora achando que somos apenas mais um “xxxxx” qualquer.

Mas é exatamente aí onde o sucesso começa a ser forjado.

E a forma como estamos atravessando essa arrebentação fará toda a diferença quando a hora da “beatlemania particular” de cada um, na dimensão que isso tiver, chegar. 😉

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Português que nasceu em Moçambique, foi criado no Brasil, empreendeu em Portugal e agora está de volta ao Brasil para continuar ajudando as pessoas a transformarem o conhecimento em um negócio/produto de valor.

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