“’Cause every day I wake up and suspect
That I was simply never cut out to be
The kind of person they expect
The person I intended to be
‘Cause I’m not Joe Strummer, not Muhammad Ali
Not a teacher, not a builder
Just uncomfortable me”
(Trecho de “Haven´t been doing so well” do Frank Turner)
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De repente 50.
50 anos.
– Ôpa! Sério, Edu?
Na verdade ainda não.
Faltam vários dias até 30 de agosto de 2023, quando então virarei oficialmente um cinquentão.
– Caramba, mas já?
Pois é.
E o mais curioso é que nunca liguei para idade; tanto é que até a minha filha nascer, sempre tive dificuldade em responder qual era a minha idade corretamente – o que sempre gerou confusão, constrangimento e algumas boas piadas.
Desde, então, não mais.
Ela nasceu quando fiz 40 anos e aí ficou fácil.
Hoje ela tem 9 e eu 49 anos.
Simples assim.
E, mesmo com essa marca dos 50 se aproximando, só outro dia é que, pela primeira vez em toda a minha existência, parei para pensar nisso.
Culpa do excelente filme “Tick, tick… BOOM!”, que é sobre a construção dum belo musical mostrando a vida do criativo autor Jonathan Larson.
A música que abre e dá o tom do filme, inclusive, é justamente sobre essa angústia e tensão do autor contra o tempo, pois iria fazer 30 anos em mais alguns dias e a grande obra da sua vida ainda não estava pronta.
E ele até fez 30 anos e conseguiu terminar a sua incrível obra-prima, mas infelizmente não viveu para colher todo o sucesso.
Triste coincidência que também aconteceu com outro Larson (mas com um S a mais), o escritor Stieg Larsson.
Ele escreveu a maravilhosa saga bestseller Millennium (sim, aquela da hacker Lisbeth Salander, uma das minhas personagens femininas favoritas de todos os tempos), e pouco tempo antes do seu primeiro livro ser publicado, faleceu ao sofrer um infarto fulminante quando subia as escadas no prédio até o seu escritório.
Os livros, então, que já estavam prontos, foram para a gráfica assim mesmo e acabaram conquistando o mundo.
Então me peguei olhando para os meus textos que já estão prontos (ou quase) para virarem livros, assim como para os outros rascunhos de histórias que preciso ajustar para ganharem vida, e de repente bateu essa “angústia de Larson” envolvendo o trinômio idade/morte/sucesso.
Será que até os 50 anos já estará entre nós o que poderei considerar como uma obra-prima?
E mais ainda: será que viverei o suficiente para vê-la fazer sucesso?
– Eita, aí complica, né? Mas de onde você tirou que ela irá fazer sucesso? E se você sempre repete que o sucesso é relativo, afinal que medida é essa?
Boa pergunta, mas um “passarinho” me contou que será algo realmente grande.
– Mas, Edu, se você não bebe, não fuma, não cheira e aparentemente possui todas as faculdades mentais em dia, como é que foi cair no canto de um passarinho?
Verdade, sei que parece estranho para caramba mesmo, mas sabe essas certezas que temos na vida?
Pois é.
Não sou vidente, mas muitas das coisas pelas quais passei e conquistei até hoje, curiosamente foram “cantadas” muito tempo antes de acontecerem.
– Sexto sentido?
Não sei.
Não são sonhos (apesar de ainda sonhar muito), mas também não se trata daqueles objetivos (e ainda tenho alguns) que traçamos em nossas vidas e que perseguimos conscientemente com todas as nossas forças até darem certo.
Assim como também não são desejos, daqueles que volta e meia estamos suspirando entre o ter e o ser algo específico em algum momento.
Muito pelo contrário.
É algo inconsciente, como se fosse uma espécie de “sombra”, digamos assim, que apenas está lá – e já está lá há muito tempo, diga-se de passagem.
E ela sussurra.
E nesses sussurros as minhas palavras conquistam o mundo – o que me deixa sempre assustado, mas ao mesmo tempo me mantém alerta, pois parece que todas as experiências pelas quais tenho passado até aqui estão me preparando para este momento.
Por isso que, por mais que o mundo real continue me demandando ações imediatas e concretas nos vários projetos profissionais que sigo criando e tocando, continuo arrumando tempo para escrever, construir histórias e lançar novos livros.
Talvez seja esse o meu propósito e o futuro ainda me mostre que os passarinhos tinham razão, mas por enquanto ainda é apenas uma mistura de prazer recheada de sangue, suor e lágrimas.
Afinal, como bem respondeu no filme a empresária para um frustrado Larson, assim que ele entregou orgulhoso o musical no qual tinha trabalhado a vida toda, mas que nenhum produtor se interessou, “faça o próximo musical”.
O próximo trabalho.
O próximo livro.
O próximo.
Mas não faça por fazer, mas sim por prazer e sempre bem feito.
E continue plantando e regando.
Plantando e regando.
Plantando.
Regando.
Pois independente da colheita vir (ou não) com 50, 75 ou 100 anos, o mais importante será sempre a transformação e o impacto que o nosso jardim causou na paisagem e nas pessoas ao nosso redor.
E isto já terá sido um baita sucesso, né? 😉