Por Eduardo M. R. Lopes
A maioria das pessoas possui um pouco de William Kamkwamba, o (então) pequeno camponês malaui de 14 anos que teve a sua incrível história contada de forma arrebatadora no filme da Netflix “O menino que descobriu o vento“.
E é uma pena que seja só um pouco, pois há espaço para mais – muito mais.
Este pouco em comum está na fome de conhecimento, pois assim como você e eu, que vivemos em modo de aprendizado contínuo, ele também devorava os livros, muitas vezes apenas entendendo as fotos e figuras, pois sabia que eles eram os únicos amigos que poderiam ajudá-lo no seu objetivo.
Entretanto, ao contrário de você e eu, que fazemos duas ou mais refeições diárias, ele também tinha muita fome – e aqui a palavra fome é usada no sentido literal, do tipo uma refeição por dia, que era essa papa aqui:
Naquela época, uma das piores secas chegou ao seu país e acabou com o plantio – e, sem plantio, não há colheita, apenas (muita) fome.
Muitos na sua aldeia morreram, outros tantos fugiram para cidades maiores e, enquanto o pai tentava plantar a qualquer custo (em vão), ele ia para a biblioteca da escola procurar livros sobre ciências para aprender.
E aprendeu num desses livros que um moinho de vento poderia gerar eletricidade e bombear água do pequeno poço que havia na aldeia.
E, com a água do poço para irrigar a plantação, não precisavam mais depender das chuvas.
Bingo.
Conhecimento sem ação é desperdício
Se por um lado essa fome de conhecimento é o que nos une, a vontade de executar – e efetivamente fazer – é o que separa as pessoas como ele, e como outros tantos que fizeram grandes feitos que serão contados por gerações (tanto locais como mundiais) , da imensa maioria.
E talvez essa diferença cresça porque a maioria das pessoas ou não tenham graves problemas em suas vidas que as empurrem para a ação ou simplesmente não se importem o bastante com os problemas que estão por aí e que os outros, mais dia ou menos dia, irão resolver por e para elas.
Já o pequeno William, não.
Além de conviver com a fome extrema, que era “O” seu motivo extramente forte para fazer algo, ele tinha a confiança que ele mesmo poderia resolver o problema e então foi atrás de um aprendizado adicional, que foi o bastante para ele começar a agir e ter um resultado fantástico.
E é aí que talvez resida a diferença de “todo mundo” para ele e outros tantos que, no meio do nada, praticamente sem recursos e contra todas as probabilidades, conseguiram criar/reinventar/adaptar algo que efetivamente mudou para melhor a vida de todos ao seu redor.
O círculo virtuoso do sucesso
O mais curioso é que, em todos esses casos, percebe-se um padrão em forma de um círculo virtuoso que os levou a terem sucesso no que se propuseram a fazer, onde os aprendizados com os resultados de suas ações acabaram por retroalimentar a auto-confiança (que já não era baixa) para continuarem na busca dos resultados desejados.
Afinal, quanto mais as pessoas como ele acreditavam que eram capazes de resolver um problema, mais se dedicaram nas buscas pelas respostas.
E, quanto mais agiram, mais tiveram resultados (positivos ou negativos) e estes resultados geraram novos aprendizados, que aumentaram a auto-confiança e o conhecimento sobre o assunto para seguirem em frente até conseguirem a realização.
Parece óbvio – e é, mas também é muito difícil porque há outras variáveis envolvidas como o talento e a oportunidade, que permeiam todo este círculo.
Ainda assim, a perseverança para seguirem em frente com o rápido aprendizado diante dos resultados encontrados (que podem ser os piores possíveis) parece potencializar ou mesmo se sobrepor às outras duas variáveis, fortalecendo este círculo.
O círculo vicioso do fracasso
E o inverso também é verdadeiro, quando é criado um círculo vicioso que leva ao fracasso – aqui entendido não como um resultado negativo, mas sim como um abandono integral do que a pessoa se propôs a fazer e que não serviu como ponto de ignição para um novo projeto.
Afinal, quando os resultados são frustrantes e não se consegue aprender com os erros, a auto-confiança diminui e a pessoa começa a questionar o seu próprio potencial, deixando de explorá-lo como deveria.
E, então, suas ações são reduzidas, gerando assim menos resultados, que se também forem abaixo do esperado e não se conseguir extrair novos aprendizados , levará a uma queda ainda maior na auto-confiança até a desistência final do projeto e o fracasso em si, por assim dizer.
Convite para reflexão
Desta forma, deixo aqui dois convites para reflexão.
O primeiro, e óbvio para quem ainda não fez, é ver o filme.
Vale à pena também assistir ao TED que ele fez em 2009 (clique na imagem):
O segundo é avaliar o quanto de conhecimento estamos colocando para dentro (input) e o quanto efetivamente estamos devolvendo para o mundo (output).
E, quando refiro-me ao “mundo”, não precisa ser necessariamente algo fantástico que revolucionará toda a humanidade, como por exemplo a descoberta da cura do câncer, mas sim de coisas simples e com resultados mais rápidos, que poderá começar por melhorar a nossa própria vida em família.
Afinal, quando o William se propôs a fazer o moinho para melhorar a agricultura e trazer mais comida para dentro de casa, a última coisa que ele queria era ser famoso ou virar filme.
Ele só queria fazer a sua família feliz.
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