Por Eduardo M. R. Lopes
(Este artigo não é sobre finanças, mas sim sobre o aprendizado reforçado através de uma situação financeira)
Hora do almoço, 17 de maio de 2017.
O sujeito checa seus investimentos na Bolsa e, entre altos e baixos, as empresas escolhidas seguem performando muito bem obrigado, acumulando mais de 20% de ganho apenas em 2017.
Noite, 17 de maio de 2017.
O sujeito chega em casa e vê em todas fontes possíveis a informação (equivocada como se constatou depois) de uma gravação aonde o presidente Temer teria mandado dar propina para o Eduardo Cunha na prisão, e então vai dormir com a certeza de que tudo isso iria provocar um terremoto federal.
Noite, 18 de maio de 2017.
O sujeito checa o fechamento negativo histórico da bolsa em -8,8% e olha as suas aplicações, constatando que infelizmente tinha razão com relação ao terremoto – todo aquele belo ganho acumulado acabou virando pó… ou quase isso.
Sua esposa, tal e qual uma gestora de projetos coordenando uma reunião de “lições aprendidas” com o time, pergunta-lhe inocentemente:
– Mas não dava para ter feito algo para diminuir o risco e minimizar esta perda?
Ainda atordoado pelo misto de sensações de ter visto o dinheiro ir embora e pela surpresa da pergunta, o sujeito começa a balbuciar alguns sons.
– Sim, poderia ter investido em dólar, mas achei que não era a hora. Poderia também ter comprado ações de empresas exportadoras para balancear o portfólio, mas só tinha uma (e que rendeu 30% nessas últimas semanas). E poderia ter comprado opções, mas o banco não deixou.
Sabe quando você fala mais rápido do que consegue pensar? Pois é, e aí a pancada foi seca.
– Como é que é? Como é que o banco não deixou?
Fiquei sem graça e envergonhado triplamente.
Primeiro porque falei essa besteira colossal, colocando-me no papel de vítima transferindo toda a minha culpa e o meu ódio para o banco.
Segundo porque para comprar opções no banco onde tenho conta é necessário fazer uma provinha online – e eu fui reprovado 3 vezes. 🙁
Terceiro (e o mais incrível!) porque na outra corretora onde tenho conta não precisa fazer prova, mas eu simplesmente não quis transferir dinheiro para lá.
Ou seja, eu sabia o quê deveria fazer, tinha uma boa e fácil alternativa para fazer, mas neste caso por algum capricho idiota acabei protelando mais do que deveria e aí não deu tempo para fazer mais nada a não ser sentar e chorar.
É óbvio que a culpa não foi minha por ter surgido um “cisne negro” (do jargão financeiro) deste tamanho que deu um banho monumental de sangue no mercado, mas a culpa foi integralmente minha por não ter tomado a tempo medidas preventivas para minimizar o impacto causado por um evento raro como esse.
E, no nosso cotidiano, seja com eventos monumentais como este ou com outros meramente banais, quantas vezes por “n” razões também deixamos de fazer o quê deveria ter sido feito e rapidamente arrumamos uma desculpa para “tirar o nosso da reta” como se isso fosse resolver a situação?
Este talvez seja o maior câncer que todos nós carregamos desde que nascemos e que temos que nos policiar 24 horas por dia para extirpá-lo com todas as nossas forças, pois é muito fácil e (de certa forma) reconfortante posar de vítima colocando sempre a culpa nos outros e no mundo.
O problema é que ao fazermos isto, além de não resolver a situação, estamos deixando que a vida fique brincando de roleta russa com uma arma apontada para a nossa cabeça, dando poder total para que terceiros decidam sobre o quê que deverá ser feito com a nossa própria vida.
Dentro dessa arma há uma bala chamada “vitimismo” que é tão poderosa que, uma vez disparada, matará sempre dois coelhos de uma vez só. E esses coelhos têm nome: aprendizado e pró-atividade.
Desta forma, combater permanentemente o vitimismo e assumir as nossas responsabilidades diante de todos os cenários é a forma mais eficiente e eficaz para aprendermos coisas novas (muitas vezes da pior maneira), que serão fundamentais tanto para melhorar o nosso poder de ação/reação em novas situações como também para deixarmos o nosso couro cada vez mais grosso para nos proteger das intempéries que insistirão em aparecer no nosso caminho.
Por outro lado, se continuarmos escondidos dentro da nossa casca insistindo em posar de vítima das circunstâncias, além de não aprendermos coisas novas, também ficaremos cada vez mais frágeis e expostos nesse mundo que é cada vez mais… cruel.
Sim, meu caro, o mundo é mau e, por ação ou omissão, a culpa TAMBÉM é sua.
Então, entra logo em campo ao invés de continuar sentadinho lá no fundo na arquibancada torcendo para que o governo, o vizinho ou o Papa façam um gol de placa e corram até você para te entregarem a camisa do jogo da sua vida, pois aí já poderá ter sido tarde demais.
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