Mais pessoas e transformações, menos números e impressões

0

(Com as redes sociais ficando cada vez mais publicitárias e anti-sociais, atualizei este texto sobre um movimento que está ganhando corpo porque faz muito sentido tanto para quem produz conteúdo como para quem consome – e já aproveito para adiantar que em breve também lançarei a nossa comunidade por aqui. 😉 )

A vida não está fácil para ninguém, mas certamente está ainda pior para quem produz conteúdo próprio na internet.

Se você trabalhar em outra atividade e tiver filhos, aí então o buraco será ainda mais embaixo.

Seja por hobby, por necessidade ou como validação de um plano B alternativo à carreira atual, todos possuem pelo menos uma história triste para contar.

Basta olhar ao nosso redor.

Entretanto, desistir não é opção, mas readequar e repensar a rota sim.

Afinal, é importante (ou primordial) manter a presença digital, mostrando o nosso trabalho nesse grande mar aberto que é a internet.

Mas se muitos dos surfistas experientes de ondas grandes com milhares de seguidores estão sentindo o baque, imagina os que estão entrando agora atraídos pelos cantos dos gurus-sereias.

“Se você não está ganhando dinheiro com o seu smartphone, então você é um otário”.

Como o otário convicto nunca quer parecer otário, então ele joga a sua prancha ao mar e começa remar.

E aí as correntes de algoritmos começam a aparecer e as ondas começam a subir.

“Poste duas vezes por dia no feed e faça vinte stories por dia no Instagram”.

“Poste uma vez por dia no Linkedin”.

“Publique um vídeo por dia no Youtube”.

Quem não tem filhos e/ou está desempregado, respira fundo e rema como se não houvesse amanhã, pois precisa crescer para aparecer, né?

Quem tem filhos E trabalha, mesmo entrando no mar já com a respiração ofegante e os braços cansados, também remará até o seu limite.

E, tanto num como no outro caso, as chances de ficar preso e se afogar no meio dessa arrebentação de “postagens obrigatórias” é maior do que conseguir atravessá-la.

– Mas há gente que consegue?

Sim, há e aparentemente estão muito bem, mas a maioria infelizmente voltará (quase afogada) para a praia.

Ou então precisará de algum tipo de apoio psicológico, pois a cobrança interna é grande e a pressão dentro da cabeça torna-se gigantesca.

“Quem não é visto não é lembrado”.

“Nenhum algoritmo resiste a um bom conteúdo”.

Tirado do instagram @andredahmer

Então você vai lá e continua fazendo, pois é o supra-sumo em sua área de atuação, mas o problema é que há uma questão de descompasso nesse tempo aí.

E isso gera uma ansiedade gigantesca, pois ver isso todo dia na sua timeline durante um mês é, na verdade, uma espécie de suicídio guiado, pois dificilmente o seu conteúdo irá explodir em um mês.

Aliás, o que você quer mostrar ou vender precisa “explodir” nesse período?

Ou melhor: precisa mesmo “explodir”?

A verdade é que será mais fácil você implodir antes.

– E há alguma outra alternativa para atravessar essa forte correnteza de algoritmos e preservar a nossa saúde mental?

Sim, há duas coisas importantes e óbvias no meio deste mar, mas que na ânsia de crescer e aparecer a todo custo as pessoas estão ignorando, prendendo-se apenas à questão dos algoritmos.

E, afinal, eles são apenas uma parte do sistema.

Ao invés de bater de frente contra o sistema, construa um novo

Quando olhamos para internet, tendemos a focar nas redes sociais, que é a forma mais rápida e fácil de divulgarmos o que quisermos.

E é aí que mora esse temível algoritmo, que é o mecanismo mais eficiente para manter as pessoas presas dentro dessas bolhas virtuais, além de também ser o mecanismo que torna esse negócio rentável para as empresas donas dessas redes.

Entretanto, tanto na internet como nas redes sociais, a base de todo esse sistema são as pessoas e não os algoritmos.

A internet não é uma rede mundial de computadores, é uma rede mundial de pessoas usando computadores.

Martha Gabriel

Logo, para destruir o sistema não é necessário quebrar, dinamitar ou hackear o algoritmo, mas sim mudar a forma como nos conectamos com as pessoas – apesar e independente deles.

Vejamos.

Seja no mundo real (em menor escala), como principalmente dentro do mundo digital (em maior escala), vivemos numa rede onde todos estamos conectados.

Assim como os computadores, que entendem o mundo a partir da linguagem binária com 1 e 0, também trabalhamos de forma similar.

Entretanto, há uma grande diferença: nós é que fazemos a programação.

Imagine que todas as nossas conexões também formam linhas de código binárias onde às vezes somos o 1 (que significa ligado) ou o 0 (desligado).

E para aprendermos ou realizarmos os nossos projetos, diariamente lemos essa linguagem (das pessoas) na comunidade ou bolha em que estamos inseridos e tiramos ou doamos insumos intelectuais.

Logo, às vezes somos mais ativos (1) e às vezes somos mais passivos (0), mas é através desse liga/desliga (insights) das pessoas que há em nossas redes que evoluímos e ajudamos os outros a crescer.

É aí que está o segredo-nem-tão-segredo-assim mais óbvio deste mundo

Se somos nós que fazemos as conexões e assim criamos, mantemos ou entramos em novas comunidades, por que é que continuamos focando nessa briga contra os algoritmos?

A rigor, até nem dá para brigar, pois isto parece um cassino onde vez ou outra você ganha, mas na maioria você perde (quando se foca em viralização).

Então, ao invés de ficar batendo de frente contra esse sistema, por que não criar um sistema paralelo?

Criar a sua própria comunidade, independente dessas bolhas das redes sociais?

Como os hippies.

Lembra?

A essência do movimento era o senso de liberdade, a conexão (pessoas, natureza, etc) e a criação das suas próprias comunidades como uma forma de combater o individualismo.

Aliás, a própria ideia da internet surgiu deste conceito.

Conexão e comunidade.

Estas duas palavras são desde sempre as chaves que seguem moldando as relações no presente e abrindo as portas do futuro, independente das ferramentas tecnológicas disponíveis.

E o erro é achar que os seguidores que estão em nossas redes sociais são a nossa comunidade, mas na verdade não são.

Eles são pessoas que tiveram uma boa identificação conosco ou com algo que postamos, começaram a nos acompanhar e até poderão impulsionar ou não (se o algoritmo lhes mostrar) o que estamos fazendo vez ou outra.

Mas sejamos sinceros: se sumirmos amanhã, talvez a grande maioria nem note a nossa falta, pois não estamos conectados pela “essência”.

E como “o essencial é invisível aos olhos”, como já dizia a raposa para o Pequeno Príncipe, isto transcende o que aparece na timeline.

Quem se conectou de verdade irá querer saber mais e irá querer ficar mais próximo de você.

E a forma mais eficaz para manter contato é criar uma comunidade do tipo “linha direta” fora dessas bolhas – como o Luciano Pires tem feito há algum tempo com o Café Brasil , o André Forastieri em feito com o Homework e o Matheus de Souza tem feito mais recentemente com o Clube Passageiro, por exemplo.

Afinal, quem concorda em sair da bolha das redes sociais – que já deixaram de ser sociais há algum tempo – e vai para lá é porque quer acompanhar mais de perto o seu trabalho.

No seu tempo, na sua velocidade e do seu jeito.

Sem filtros.

Essa pessoa não quer correr o risco do algoritmo deixar de mostrá-lo na sua timeline.

Ela sabe que ali é um porto seguro para onde poderá ir sempre que necessitar de uma palavra ou ajuda sua e do grupo, enquanto o que você fizer e a troca no grupo lhe for útil de alguma forma.

Com uma vantagem adicional: não é através do boca a boca, a famosa recomendação, que o trabalho de qualquer um já leva vantagem sobre os demais?

E qual é o local onde as pessoas estão mais propensas a interagirem, indicarem ou eventualmemte comprarem coisas de você?

Onde você terá o melhor termômetro para saber se o que está sendo feito é útil ou não?

E qual é a melhor plataforma para impulsionar o seu conteúdo para dentro das bolhas das redes sociais – fazendo, então, o algoritmo começar a jogar ao seu favor?

Pois é.

Conexão e comunidade.

Pessoas e transformações ao invés de números e impressões.

Quanto mais facilitarmos esse processo, ajudando e agregando valor para a nossa comunidade, mais os membros se sentirão confortáveis para interagir e contribuir.

E isto irá gerar um belíssimo círculo virtuoso que facilitará o crescimento de todos, fortalecendo assim a própria comunidade e deixando a saúde mental das pessoas envolvidas em dia novamente.

Afinal, não é para isso que estamos por aqui? 😉

Obs. Foto que ilustra o texto: Bekky Bekks

Português que nasceu em Moçambique, foi criado no Brasil, empreendeu em Portugal e agora está de volta ao Brasil para continuar ajudando as pessoas a transformarem o conhecimento em um negócio/produto de valor.

Related Posts

Leave a Reply