O que você faria com 1 milhão de dólares?
No final da década de 60, os dois amigos Joel Rosenman e Jock Roberts, que moravam juntos em Manhattan, iriam receber esse dinheiro por conta de negócios de suas famílias.
Na dúvida sobre o que fariam, decidiram que queriam montar um negócio, mas não tinham a menor noção no que poderiam investir.
Publicaram, então, no jornal The New York Times um anúncio com o chamativo título “Jovens com capital ilimitado” com o objetivo de receberem propostas de negócios.
E receberam.
Mais de mil cartas chegaram com as mais variadas ideias possíveis.
Curiosamente, e talvez porque Joel gostava de tocar guitarra, escolheram um dos projetos que era um dos mais baratos, mas que talvez fosse o mais “cool” (legal) para jovens como eles: montar um estúdio de gravação de música em Nova York.
Os dois ficaram muito empolgados com o negócio e resolveram fazer uma festa para o lançamento do estúdio.
Mas não poderia ser uma festa qualquer num clube qualquer, pois como o dinheiro estava sobrando, o lançamento precisava ficar marcado na história da cidade.
Conversa daqui, conversa dali, eis que um amigo do amigo conhecia o lendário guitarrista Jimi Hendrix, que já fazia sucesso naquela época.
E aí a festa foi crescendo – e saindo completamente do controle.
Um show com o Jimi Hendrix, num lugar para 20 mil pessoas, sem dúvida seria um evento marcante para o lançamento de qualquer coisa – o que dirá, então, um estúdio de gravação!
O problema agora era achar esse lugar em Nova York.
Procuraram, procuraram e não conseguiram nenhum lugar disponível.
Até que outro amigo do amigo que conhecia o Bob Dylan, que morava num vilarejo em Woodstock, conseguiu arrumar uma fazenda para eles alugarem e fazerem o show ali.
E o resto, meio que sem querer e com uma benção gigantesca do acaso, acabou virando História com H maiúsculo.
Dos 20 mil ingressos originais previstos, na venda antecipada já tinham vendido incríveis 180 mil!
E o show já tinha virado um grande festival, que no dia da abertura eles próprios mandaram derrubar as cercas porque mais de 450 mil pessoas estavam no local.
Mesmo com o sucesso absoluto de público e sendo um marco na história da música e de toda uma geração, o Festival de Woodstock (1969) financeiramente acabou dando um grande prejuízo.
Do 1 milhão de dólares que eles tinham (valores da época), os pais tiveram que socorrê-los com mais 1 milhão e 400 mil dólares para cobrirem todos os processos judiciais, a operação logística, a infraestrutura e a contratação das bandas, que foi feita pelo dobro do que cada uma habitualmente cobrava.
Por causa disto e da grande confusão que o festival causou, ficaram sem moral tanto com a família quanto com o mercado como um todo, pois nenhum outro empresário mais queria fazer negócios com eles a partir de então.
A coisa só se equilibrou e eles, então, começaram a ganhar dinheiro de verdade (e como nunca), muito tempo depois quando venderam os discos do festival e os direitos dos vídeos que foram gravados, que acabou virando um filme histórico.
– Mas, afinal, e o estúdio de gravação?
Pois é.
O Festival de Woodstock é um exemplo totalmente fora da curva que nasceu e deu certo por acaso mesmo com um explosiva mistura de falta de foco, dinheiro sobrando e um excesso de “já que” correndo solto nas veias.
E isso não tem nada a ver com o pensar grande, que é fundamental em qualquer coisa que façamos, pois o Rock in Rio (por exemplo) foi pensado e executado desta forma – e deu (muito) certo.
A questão aqui é que a festa passou a ser mais importante que o negócio original, chegando num ponto em que não havia mais como voltar atrás.
E talvez seja por isso que tantos negócios não decolam no início ou nem sequer conseguem sair do papel.
Porque as pessoas ficam tão empolgadas com as inúmeras possibilidades futuras, com os tantos “já que” que poderão levar o negócio para outro patamar, e aí acabam deixando de fazer o que é o essencial para o básico “já” dar certo hoje.
Ficam cegas com os holofotes do oba-oba da festa, achando que estão construindo um novo Woodstock, quando na verdade o estúdio, que era o que seria construído desde o início, ainda nem está de pé.
E é justamente aí que baterá aquela frustração quando perceberem que não há mais tempo, dinheiro ou vontade para concluírem o tal mundo ideal, quando o mundo possível estava bem ali à mão.
Perderam-se no meio do caminho e, o que é pior, talvez nem tenham uma família assim tão rica como a deles para ajudar a pagar essa viagem de volta.
De volta para o básico.
Para o que precisa ser feito hoje.
Um passo de cada vez com um pouco mais de “já” e menos de “já que”.
E a festa, bem, essa ainda poderá esperar mais um pouco, né? 😉
Em tempo: Joel é primo do empresário Ricardo Semler, autor do clássico “Virando a própria mesa”, que narrou parte desta história no livro Você está louco!
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