Outro dia um amigo me encaminhou mais uma dessas “entrevistas imperdíveis” sobre o sentido da vida e, curioso que sou, cliquei no vídeo para ver do que se tratava.
Com menos de 1 minuto já tinha pausado, apagado e voltado para o mundo real.
E apaguei porque já cansei de ouvir essas discussões sobre o tal “sentido da vida dos seres humanos”, quando na verdade isto tudo pode ser resumido em apenas uma palavra: sobreviver.
Já o sentido da SUA vida ou da MINHA vida, enquanto estamos sobrevivendo neste planeta, aí é uma outra história completamente diferente.
Até porque somos todos diferentes, muito embora possamos ter (e temos) muitas coisas e objetivos em comum.
E, sendo diferentes, precisamos fugir sempre destas conversas homogeinizadoras, que na verdade mais atrapalham do que ajudam.
E atrapalham porque, insconcientemente, funcionam como a música do flautista de Hamelin, empurrando-nos hipnotizados para seguir a massa e afastando-nos cada vez mais da nossa essência.
Afastando-nos do nosso coração.
Enquanto gastamos o nosso precioso tempo prestando atenção (demais) nos outros, esquecemos de nós mesmos.
Enquanto queremos ser (demais) como os outros, deixamos de querer ser nós mesmos.
Enquanto copiamos (demais) o sentido da vida dos outros, estaremos sempre vivendo com essa estranha sensação de que está faltando algo.
E está.
Está faltando ouvir o nosso coração.
Afinal, ele já tem a resposta, mas o problema é que muitas vezes ou demoramos ou nos recusamos a aceitar o que ele diz.
E optamos por viver a nossa vida como os outros esperam que vivamos, mesmo que isto custe uma infelicidade crônica e uma decepção invisível, ao invés de tentar ser e fazer as coisas como gostaríamos.
Como o Bill bem sugeriu nesta tirinha, que possivelmente é uma das melhores de todos os tempos para sempre:
Sentiu um nó na garganta e um aperto no peito?
Pois é, até hoje também sinto – e olha que já se passaram quase 10 anos (olhando várias vezes todos os anos) desde que recebi e salvei esta tirinha pela primeira vez.
Ela foi feita pelo genial Bill Watterson, que é o pai de um dos personagens mais célebres da história dos quadrinhos: Calvin & Haroldo (Calvin and Hobbes).
A propósito, Calvin foi publicado por 10 anos entre novembro de 1985 e dezembro de 1995, e fez sucesso desde o primeiro dia em que apareceu num jornal dos Estados Unidos para depois conquistar o mundo.
Bill ganhou um bom dinheiro nesse período e, ao contrário do ditado de que “em time que está ganhando não se mexe”, ele não só mexeu, como resolveu acabar logo com o jogo.
Aposentou o Calvin e também se aposentou por tabela, sendo que, desde então, tirando uma ou outra raríssima ilustração ou texto, nunca mais foi visto.
O sujeito optou por não dar mais entrevistas, não tirar fotos, não aparecer em eventos e, segundo reza a lenda, segue vivendo tranquilamente com a sua família.
Agora, sabe o que é mais curioso?
Você já viu algum boneco, uma pelúcia, um desenho animado, filme, lancheira, conjunto de lençóis, jogo de tabuleiro, bola de futebol ou seja lá o que for com a imagem oficial do Calvin ou do seu tigre Haroldo?
Pois é.
Produto OFICIAL não existe porque o Bill nunca aprovou nenhum contrato de licenciamento da sua famosa criação.
Para ele o personagem vive apenas nas histórias em quadrinhos e ponto final.
Agora imagina os caminhões, ou melhor, os navios cargueiros entupidos de dinheiro que ele deixou de ganhar nestes últimos 28 anos (após a aposentadoria do Calvin), mas que ainda poderia ganhar a qualquer momento bastando apenas falar as palavras mágicas: o Calvin já pode ser licenciado.
Mas não perca seu tempo julgando-o, pois ele já descobriu e está vivendo de acordo com o sentido da vida DELE.
E, certamente, tem vivido muito feliz com esse “problema”.
O ponto principal é que, de um jeito ou de outro, qualquer sentido que criarmos para a nossa vida deverá passar sempre pelo sentir.
Até porque se ele não for sentido é porque não tem sentido.
E tampouco fará diferença.
Obs. A tirinha original está aqui e até hoje não sei quem traduziu e a publicou em português.