A vida não está fácil para ninguém, mas certamente está ainda pior para quem produz conteúdo próprio na internet.
Se você trabalhar em outra atividade e tiver filhos, como eu, aí então buraco será ainda mais embaixo.
Seja por hobby, por necessidade ou como validação de um plano B alternativo à carreira atual, todos possuem pelo menos uma história triste para contar.
Basta olhar ao nosso redor.
O Thiago Dalleck, que é uma das grandes revelações da escrita, e que toda segunda-feira desde agosto de 2020 nos brindava com seus artigos maravilhosos, pediu um tempo para se cuidar.
A Paty Cozer, que é uma das melhores escritoras dos últimos tempos, e que até já tinha desinstalado o Instagram, voltou mais forte e continua levantando a bandeira (que assino embaixo) de que Tá tudo bem não publicar ou aparecer 30 vezes por dia (e o conteúdo lento taí para te provar).
E o Dimitri Vieira, que é um dos mais incríveis Top Voices que há no Linkedin, outro dia fez o alerta que Se não respeitarmos nossas vidas além das redes sociais e do trabalho, ninguém mais vai respeitar.
Desistir não é opção, pelo contrário, mas readequar e repensar a rota sim.
Afinal, é importante (para alguns é primordial) manter a presença digital, mostrando o nosso trabalho nesse grande livro aberto que é a internet.
Mas se os surfistas experientes de ondas grandes como estes já sentiram o baque, imagina os que estão entrando agora atraídos pelos cantos dos gurus-sereias.
“Se você não está ganhando dinheiro com o seu smartphone, então você é um otário”.
Como o otário convicto nunca quer parecer otário, então ele joga a sua prancha ao mar e começa remar.
E aí as correntes de algoritmos começam a aparecer e as ondas começam a subir.
“Poste duas vezes por dia no feed e faça vinte stories por dia no Instagram”.
“Poste uma vez por dia no Linkedin”.
“Publique um vídeo por dia no Youtube”.
Quem não tem filhos e/ou está desempregado, respira fundo e rema como se não houvesse amanhã, pois precisa crescer para aparecer, né?
Quem tem filhos E trabalha, mesmo entrando no mar já com a respiração ofegante e os braços cansados, também remará até o seu limite.
E tanto num como no outro caso, as chances de ficar preso e se afogar no meio dessa arrebentação de “postagens obrigatórias” é maior do que conseguir atravessá-la.
– Mas há gente que consegue?
Sim, há e aparentemente estão muito bem, mas a maioria infelizmente voltará para a praia.
Ou então precisará de algum tipo de apoio psicológico, pois a cobrança interna é grande e a pressão dentro da cabeça torna-se gigantesca.
“Quem não é visto, não é lembrado”.
“Nenhum algoritmo resiste a um bom conteúdo”.
Então você vai lá e continua fazendo, pois é o supra-sumo em sua área de atuação, mas o problema é que há uma questão de descompasso no tempo aí.
E isso gera uma ansiedade gigantesca, pois ver isso todo dia na sua timeline durante um mês é, na verdade, uma espécie de suicídio guiado, pois dificilmente o seu conteúdo irá explodir em um mês.
Aliás, o que você quer mostrar ou vender precisa “explodir” nesse período?
Ou melhor: precisa mesmo “explodir”?
Desculpa, mas será mais fácil você implodir antes.
– E há alguma outra alternativa para atravessar essa forte correnteza de algoritmos e preservar a nossa saúde mental?
Sim, há e a Paty até já deu uma dica preciosa com a filosofia do slow content (conteúdo lento) lá em cima.
Mas também há duas coisas importantes e óbvias no meio deste mar, mas que na ânsia de crescer e aparecer a todo custo as pessoas estão ignorando, prendendo-se apenas à questão dos algoritmos.
E, afinal, eles são apenas uma parte do sistema.
Ao invés de bater de frente contra o sistema, construa um novo
Quando olhamos para internet, tendemos a focar nas redes sociais, que é a forma mais rápida e fácil de divulgarmos o que quisermos.
E é aí que mora esse temível algoritmo, que é o mecanismo mais eficiente para manter as pessoas presas dentro dessas bolhas virtuais, além de também ser o mecanismo que torna esse negócio rentável para as empresas donas dessas redes.
Entretanto, tanto na internet como nas redes sociais, a base de todo esse sistema são as pessoas, e não os algoritmos.
A internet não é uma rede mundial de computadores, é uma rede mundial de pessoas usando computadores.
Martha Gabriel
Logo, para destruir o sistema não é necessário quebrar, dinamitar ou hackear o algoritmo, mas sim mudar a forma como nos conectamos com as pessoas – apesar e independente deles.
Vejamos.
Seja no mundo real (em menor escala), como principalmente dentro do mundo digital (em maior escala), vivemos numa rede onde todos estamos conectados.
Assim como os computadores, que entendem o mundo a partir da linguagem binária com 1 e 0, também trabalhamos de forma similar.
Entretanto, há uma grande diferença: nós é que fazemos a programação.
Imagine que todas as nossas conexões também formam linhas de código binárias onde às vezes somos o 1 (que significa ligado) ou o 0 (desligado).
E para aprendermos ou realizarmos os nossos projetos, diariamente lemos essa linguagem (das pessoas) na comunidade ou bolha em que estamos inseridos e tiramos ou doamos insumos intelectuais.
Logo, às vezes somos mais ativos (1) e às vezes somos mais passivos (0), mas é através desse liga/desliga (insights) das pessoas que há em nossas redes que evoluímos e ajudamos os outros a crescer.
É aí que está o segredo-nem-tão-segredo-assim mais óbvio deste mundo
Se somos nós que fazemos as conexões, e assim criamos, mantemos ou entramos em novas comunidades, por que é que continuamos focando nessa briga contra os algoritmos?
A rigor, até nem dá para brigar, pois isto parece um cassino onde vez ou outra você ganha, mas na maioria você perde (quando se foca em viralização).
Então, ao invés de ficar batendo de frente contra esse sistema, por que não criar um sistema paralelo?
Criar a sua própria comunidade, independente dessas bolhas das redes sociais?
Como os hippies.
Lembra?
A essência do movimento era o senso de liberdade, a conexão (pessoas, natureza, etc) e a criação das suas próprias comunidades como uma forma de combater o individualismo.
Aliás, a própria ideia da internet surgiu deste conceito.
Conexão e comunidade.
Estas duas palavras são desde sempre as chaves que seguem moldando as relações no presente e abrindo as portas do futuro, independente das ferramentas tecnológicas disponíveis.
E o erro é achar que os seguidores que estão em nossas redes sociais são a nossa comunidade, mas na verdade não são.
Eles são pessoas que tiveram uma boa primeira identificação conosco, começam a nos acompanhar e até poderão impulsionar ou não (se o algoritmo lhes mostrar) o que estamos fazendo vez ou outra.
Mas sejamos sinceros: se sumirmos amanhã, talvez a grande maioria nem note a nossa falta, pois não estamos conectados pela “essência”.
E como “o essencial é invisível aos olhos”, como já dizia a raposa para o Pequeno Príncipe, isto transcende o que aparece na timeline.
Quem se conectou de verdade irá querer saber mais e irá querer ficar mais próximo de você.
E a forma mais eficaz para manter contato é criar uma comunidade do tipo “linha direta” fora dessas bolhas – seja através de uma newsletter do seu blog, um canal no whatsapp ou no telegram, por exemplo.
Afinal, quem concorda em sair da bolha das redes sociais e vai para lá é porque quer acompanhar mais de perto o seu trabalho.
No seu tempo, na sua velocidade e do seu jeito.
Sem filtros.
Essa pessoa não quer correr o risco do algoritmo deixar de mostrá-lo na sua timeline.
Ela sabe que ali é um porto seguro para onde poderá ir sempre que necessitar de uma palavra ou ajuda sua, enquanto o que você fizer lhe for útil de alguma forma.
Com uma vantagem adicional: não é através do boca a boca, a famosa recomendação, que o trabalho de qualquer um já leva vantagem sobre os demais?
Exato.
E qual é o local onde as pessoas estão mais propensas a interagirem, indicarem ou comprarem coisas de você?
Onde você terá o melhor termômetro para saber se o que está sendo feito é útil ou não?
E qual é a melhor plataforma para impulsionar o seu conteúdo para dentro das bolhas das redes sociais – fazendo, então, o algoritmo começar a jogar ao seu favor?
Pois é.
Conexão e comunidade.
Quanto mais você ajuda e agrega valor para a sua comunidade, mais os membros contribuirão para o seu crescimento num belo círculo virtuoso.
Com certeza esta não é a estratégia de crescimento mais rápida, mas sem dúvida é a mais saudável e também a mais sólida, pois é feita de conexões.
E essas conexões são feitas por pessoas de carne e osso, que por acaso hoje usam computadores ou smartphones e passeiam pelas redes sociais, né?
Pois é.
Então, cuide bem das suas conexões e agregue valor para a sua comunidade.
E o resto é paisagem. 😉
Em tempo: se o que escrevo é útil e você não quer deixar que o algoritmo decida por você quando receber ou não o que venho produzindo, então criei este canal no telegram para ficarmos ainda mais próximos (clique aqui). Te vejo lá! 🙂
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Adorei ter lido esse post numa segunda-feira pela manha. Me deu uma sensacao de estar no caminho “certo”, ou pelo menos, um caminho mais “tranquilo” da Producao de Conteudo.
Adoro escrever, mas o Algoritmo e a pressao interna e externa estavam me deixando exausta e desanimada.
Obrigada!
Que bacana, Mônica!
Fico feliz em saber disso e lembre-se que o mais importante é o “seu” caminho. 😉
Grande abraço,
Eduardo Lopes