Por Eduardo M. R. Lopes
Muitos acreditam até hoje que a criatividade é um dom, uma característica sobrenatural ou um privilégio exclusivo dos cérebros com altos QIs.
Felizmente, estão equivocados.
A criatividade, em sua essência, está relacionada à imaginação e à sua aplicação para a resolução de problemas.
E a boa notícia é que, na verdade, ela é uma habilidade que já vem instalada de fábrica em todos os seres humanos.
E, sendo uma habilidade, pode e deve ser treinada.
Só depende de cada um.
E é aí que mora o problema… ou a solução!
Construir o repertório é preciso
O nosso cérebro é uma poderosa ferramenta que, entre outras coisas, armazena as experiências (positivas e negativas) que vamos encontrando em nosso caminho.
Desta forma, o modo como vivemos – as coisas que fazemos, aprendemos, vemos, lemos, etc. – tudo isso faz parte do que chamamos de Repertório.
Ele é único, individual e está em permanente construção.
Mesmo que exista uma outra pessoa que more no mesmo lugar que você, que trabalhe fazendo a mesma função, que viaje para os mesmos lugares, leia os mesmos livros e escute as mesmas músicas, ainda assim o repertório dela será diferente porque a experiência dela diante de tudo isto é diferente da sua.
E um dos segredos – ok, nem tão segredo assim – para ampliarmos e melhorarmos a qualidade do nosso repertório é acumular novas e variadas experiências.
Isto porque tudo que é novo e diferente do que estamos acostumados, nos tira do piloto automático e injeta novos estímulos no cérebro, obrigando-o pensar.
E esse trabalho que ele faz para pensar, seja para procurar padrões para encaixar o novo estímulo (menor esforço) ou seja para achar respostas para resolvê-lo (maior esforço), é uma forma de exercício.
E, quanto mais ele se exercita, cada vez melhor ele funciona.
– Mas agora, então, eu vou ter que pular de paraquedas no próximo final de semana? – Você deve estar se perguntando.
Sim e não.
Sim, porque, de fato, é uma experiência rica; mas também não, pois é uma atividade muito radical e talvez você tenha medo – e está tudo bem também.
Mas vamos deixar os esportes radicais de lado, pois há coisas bem mais simples, fáceis e grátis dentro da sua própria casa ou ali mesmo na esquina que já poderão ajudar.
Por exemplo, digamos que o sujeito é um advogado tributarista que respira e estuda sobre impostos quase o tempo todo.
Para relaxar, ele gosta de assistir e jogar futebol, além de acompanhar os debates esportivos.
Essa é a sua rotina básica e, por mais inteligente que ele seja, seu cérebro já se “acomodou” com esta rotina confortável.
Se, por exemplo, ele começar a trocar o debate esportivo na televisão por um programa sobre reforma de casas, ou ainda quando passar pela banca da esquina folhear uma revista sobre aeromodelismo, tudo isto servirá como novos inputs fora do padrão ao qual ele estava acostumado.
Ainda que nenhuma destas duas experiências o agrade, para o cérebro foi positivo.
E, se algo lhe chamou a atenção, será melhor ainda.
Nessa hora é que será bom anotar, recortar ou tirar foto, pois isto é uma forma de mostrar para o cérebro que “isto merece ser guardado”.
E o somatório de todas essas coisas que “merecem ser guardadas” será chamada de Coleção, que é como se fosse uma caixa especial dentro do seu Repertório.
Será esta caixa que, inicialmente, o cérebro irá acessar quando tentar responder a algum estímulo recebido antes de vasculhar o restante do Repertório.
Melhor do que a resposta certa é a Pergunta certa
Como já percebemos que o Repertório está em permanente construção, é hora então de exercitar a atenção do olhar para começar a resolver os pequenos problemas cotidianos.
Porém, antes de escolher um problema e sair tentando resolvê-lo, será muito importante focar na formulação da pergunta correta.
Afinal, cavar muito bem no lugar errado é pior do que não cavar, pois demandará muito tempo e esforço para não chegar a lugar algum.
Lembra da clássica frase atribuída ao Henry Ford?
“Se eu tivesse perguntado às pessoas o que elas queriam, elas teriam dito cavalos mais rápidos”.
Henry Ford
Ou seja, ele poderia ter ido cavar a resposta em algo do tipo “como aumentar a velocidade dos cavalos?” ou talvez “como tornar mais agradável uma viagem com cavalos?”.
Entretanto, ele resolveu cavar em “como transportar as pessoas com segurança, conforto e velocidade?”
Ao fazer a pergunta certa, não só achou a resposta correta como mudou o mundo.
Nada se cria, tudo se combina
Perceba que o que ele fez (juntar a velocidade do cavalo com o conforto das carruagens), assim como o Steve Jobs fez com o iPhone e tantos outros que entraram para a história, foi juntar coisas que já existiam para criar um novo produto que proporcionava uma experiência diferente… e melhor.
E, se reparar bem, verá que praticamente tudo o que foi inventado são combinações ou adaptações de coisas que já existiam.
É óbvio que é muito difícil que eu e você tenhamos uma sacada dessas logo de primeira na manga da nossa camisa, mas com certeza todos nós possuímos duas coisas que todos esses gênios possuem:
A capacidade de observar e de perguntar.
E a melhor forma de ir aprimorando o cérebro é justamente começar a olhar para as coisas banais do nosso dia a dia e fazer o exercício do “E se?”, que é uma das perguntas mais importantes da humanidade.
O resultado poderá surpreender positivamente ao perceber que existem alguns pequenos problemas que você mesmo conseguirá resolver – e que tornarão sua vida mais fácil – sem necessariamente gastar dinheiro, bastando apenas mudar ou criar processos novos.
É tudo uma questão de observar e perguntar, mas o mais importante é praticar.
Desta forma, quanto mais estímulos o cérebro receber para vasculhar o Repertório tentando fazer associações ou combinações, maiores serão as chances dele conseguir Ligar os Pontos e criar a resposta.
E aí se dará o clássico momento “Eureka”, onde o processo é exatamente o mesmo, tanto para criar as respostas que resolvam grandes problemas como também os pequenos, seja na vida ou no trabalho.
Círculo Vicioso x Círculo Virtuoso
Quando encontramos um problema pela frente, temos duas opções: repetir ou criar respostas.
Quando não nos esforçamos para ampliar o Repertório e enriquecer a qualidade da Coleção, bem como não conseguimos identificar a Pergunta correta e não treinamos o cérebro para fazer a Ligação dos Pontos, estaremos fadados a repetir respostas.
Então, com a nossa capacidade criativa cada vez mais limitada, entraremos num perigoso Círculo Vicioso que poderá nos levar até a conclusão lá do primeiro parágrafo: a criatividade é um dom, uma característica sobrenatural ou um privilégio exclusivo dos cérebros com altos QIs.
Para piorar, é bom lembrar que para repetir padrões e respostas, as máquinas fazem isso com maestria e infinitamente melhor do que qualquer ser humano.
Então, se não quisermos ser engolidos por uma máquina e começar a criar novas soluções, basta quebrar este círculo vicioso e entrar de pés e cabeça no que chamei de Círculo Virtuoso da Criatividade.
Afinal, quanto maior, diversificada e rica forem as experiências que acumulamos ao longo da vida (Repertório + Coleção), quanto melhor conseguirmos identificar a Pergunta correta para o problema que queremos resolver e quanto mais o nosso cérebro estiver treinado para Ligar os Pontos, maiores serão as chances de criarmos uma nova solução que seja efetiva para resolver o problema em questão.
E, como o ciclo se retroalimenta, quanto mais praticarmos, o cérebro ficará cada vez mais afiado e todos nós ficaremos cada vez mais criativos.
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