(It starts with
One thing, I don’t know why
It doesn’t even matter how hard you try…)
– Eu só olhava para o sol se pondo no horizonte.
Há algo mágico quando você acelera o carro com a sua música favorita no último volume e não há ninguém na estrada.
É uma sensação estranha de poder e liberdade.
A liberdade de movimentar-se à vontade, sem ninguém ao pé do teu ouvido para te dizer se está indo para o caminho certo ou errado.
Sem ninguém para te mandar parar ou te julgar se isso era o que você deveria e como deveria estar fazendo ou não.
E esse é o verdadeiro poder: conseguir mandar em si mesmo.
Como faço agora.
(The clock ticks life away, it’s so unreal…)
Afinal, mandar nos outros com dinheiro no bolso e um cargo importante sempre foi fácil demais.
Difícil mesmo era mandar em mim, pois em algum momento virei um pálido reflexo das expectativas que os outros depositavam em mim.
Eu deixei de ser eu, sendo o eu que outros queriam, sem perceber que o verdadeiro eu já tinha ido embora.
E deixou aqui um enorme vazio, mas que não consegui enxergar porque estava muito ocupado com o eu que os outros viam.
Fiquei cego diante dos sorrisos falsos, dos flashes armados, dos elogios sob medida e dos tapinhas nas costas que chegavam sem parar.
Um profissional respeitado, paparicado por 1 milhão de amigos que na verdade eram amigos do meu cargo.
Do meu status.
Amigos que só queriam me usar como escada ou troféu para alavancarem suas carreiras.
E muitos até conseguiram.
Mas agora percebo que tudo não passou de uma grande e triste ilusão.
(What it meant to me will eventually
Be a memory of a time when
I tried so hard and got so far…)
Outro dia um menino de 8 anos disse que a vida era uma história de como a gente morreu, mas nunca percebemos que morremos várias vezes antes de morrer pela última vez.
A vida até parece mesmo um grande circo, onde cada um segue cumprindo o seu papel de palhaço sem perceber.
Como eu cumpri o meu, e muito bem por sinal.
Mas é quando caímos e perdemos o nariz vermelho, é que a verdade nua e crua vem à tona.
(I had to fall to lose it all…)
Como eu caí, iludido pelo sucesso já conquistado, e acabei perdendo praticamente tudo numa espiral de acontecimentos infelizes que me levaram ao fundo do poço.
E doeu.
E sangrou.
E então enxerguei que o meu lado de fora era tão vazio quanto o meu lado de dentro.
Não havia nada.
E esse nada era eu.
Sem dinheiro, sem família, sem status, sem fama e sem “eu”.
Para a sociedade, voltei a ser invisível.
(I tried so hard and got so far…)
E quem iria estender a mão para quem é invisível, desde que isso não pudesse ser usado para alavancar sua carreira ou negócio em alguma rede social?
Pois é, ninguém mais queria.
Ninguém mais tinha tempo.
O show precisava continuar e eu é que não tinha mais graça nenhuma.
(But in the end, it doesn’t even matter…)
Eu…
Mas, afinal, quem sou eu?
Um grande erro, que por acaso deu muito certo para que tivesse apenas os tais quinze minutos de fama?
Ou um grande acerto, que por acaso deu muito errado para que construísse algo ainda maior?
Não sei…
Aliás, preciso mesmo saber disso agora?
(In the end, it doesn’t even matter)
É, talvez você tenha razão.
No final isso não fará mais nenhuma diferença porque não haverá mais nada para se fazer.
Apenas sorrir ou se arrepender.
O importante é o agora.
Agir agora para não ter com o que se arrepender no final.
E talvez seja isso que o realmente importa, né?
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Este conto foi embalado pela música In the end (trechos da letra aparecem em itálico) da banda Linkin Park, cujo vocalista Chester Bennington infelizmente se suicidou em 2017 aos 41 anos.
E resolvi publicá-lo porque coincidentemente estamos no mês de prevenção ao suicídio no Brasil.
Se você conhece alguém ou está passando por alguma situação que te faça duvidar seriamente que tua vida é importante, ligue agora para o CVV (Centro de Valorização da Vida): 188.
Ou acesse o site oficial desta linda iniciativa que é o Setembro Amarelo. 😉
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