A pressão é invisível aos olhos, como o ar, mas sentimos o seu peso em nossa cabeça e em nossos ombros todos os dias da nossa vida.
Insensível, ela nunca se importa se estamos bem ou mal, ainda mais nessa época estranha em que estamos vivendo, pois o importante é o resultado.
E tanto faz se é para entregar o que já somos pagos para fazer no dia a dia ou se é para entregar o que sonhamos em fazer – e que talvez já tenhamos até iniciado.
Longe dos holofotes, no silêncio (ou quase) do nosso quarto (ou quase) seguimos lutando, sangrando, às vezes ganhando e sorrindo, outras vezes perdendo e chorando.
Faz parte.
O importante é que ainda temos tempo, pois “somos tão jovens…” como cantava a Legião Urbana em outra época, quando ainda não tínhamos a noção de “que o para sempre, sempre acaba”.
Mas e quando já não se é tão jovem assim (fisicamente falando), há um holofote gigantesco apontado na sua direção por uma legião de fãs fanáticos e o seu trabalho ainda não acabou?
A grande obra da sua vida ainda não foi concluída?
E todos te cobram vinte e quatro horas por isso?
Pois é, se já está difícil para você e eu atravessarmos esta pandemia, imagina para um sujeito de 72 anos que, além de tudo, no meio do caminho ainda faltam 2 livros.
Faltam dois livros no meio do caminho.
E agora, George?
Da varanda de casa no meio de deserto, ele toma mais um copo de água e volta para o computador para continuar escrevendo.
Antes, porém, dá uma olhada no mar de e-mails e a pergunta é sempre a mesma já há alguns anos: quando será entregue o último livro?
Suspira.
Olha para a conta bancária e sorri, mas isso talvez nem faça mais diferença, pois ele nem consegue mais sair de casa para gastar essa grana porque os fãs, quando o encontram, imploram para que volte para casa para terminar os livros.
– E eles talvez tenham razão – pondera.
Olha para o quadro de vendas e os cinco livros lançados até agora já venderam mais de 90 milhões de cópias.
– Feliz é a mãe do Harry Potter, que em 10 anos entregou os 7 livros e já está “livre” – ri de nervoso.
Abre o seu blog e escreve que agora em 2021 finalmente entregará o sexto livro da série, e ficará faltando apenas um.
Alegria geral.
Lembra-se que começou a escrever esta série em 1991, sendo que o primeiro livro foi lançado apenas em 1996.
Ou seja, 25 anos depois o sexto livro está prestes a nascer.
Vê memes e piadas na internet lembrando-o que o Stephen King, que é um ano mais velho, neste mesmo período lançou uns 20 livros.
Dá de ombros, afinal cada um tem o seu tempo e ele só está querendo fazer o seu melhor.
E o seu melhor é apenas o aclamadíssimo As crônicas de gelo e fogo, que a HBO comprou os direitos e transformou num dos seriados mais famosos e vistos da história: Game of Thrones.
E isto foi bom, pois aumentou a visibilidade dos livros que já eram sucesso de público e crítica, mas trouxe também uma exposição e uma pressão além da conta, incluindo o julgamento e as críticas por um final não tão legal assim.
– Ali é um dos finais, mas não é o final da história – tem sido a resposta padrão em todas as entrevistas desde que a série começou a ser exibida na televisão.
Afinal, muita coisa precisou ser cortada e adaptada, pois a riqueza e a grandiosidade da maravilhosa história daqueles 7 reinos só caberiam, talvez, numa novela diária que durasse uns 10 anos.
O final e a verdade, ao contrário do Arquivo X, está ali dentro, nos livros, que já são uma das melhores histórias escritas de todos os tempos.
E, então, durma-se com um barulho desses – literalmente.
Ou melhor não, pois é preciso terminar logo o sexto livro e começar a escrever o sétimo para, quem sabe, entregá-lo quando completar 80 anos.
Ou 85 anos.
90?
Aí sim, quem sabe, ficar livre para poder curtir a vida à vontade (e adoidado?) sem mais essa pressão gigantesca e absurda que vem pesando sobre os seus ombros.
Quem sabe?
Enfim, o fato é que não deve ser fácil estar na pele do escritor George R.R. Martin, como também não deve ser nada fácil estar na sua ou na minha pele.
Cada um preso à sua maneira.
Cada um lidando com as pressões externas e internas à sua maneira.
Cada um fazendo o possível e o impossível para entregar o melhor para o mundo à sua maneira – no seu tempo e do seu jeito.
E, no final, talvez seja isso o que realmente importa.
Ou não?
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