Por Eduardo M. R. Lopes
Quando temos filhos, retomar antigos hábitos que pareciam tão banais como ir ao cinema, por exemplo, levam tempo – e, no meu caso, foram dois anos e cinco meses até voltar a uma sala de exibição. Mas já antecipo que a espera valeu à pena, pois além de ter sido a primeira vez com a minha pequena princesinha, O Bom Dinossauro trouxe algumas reflexões interessantes sobre a carreira e a vida que gostaria de compartilhar com vocês neste artigo.
A bela animação da Pixar, que a princípio teve o pior desempenho comercial entre todas as outras 16 animações que o estúdio lançou até agora, mostra-nos o planeta ainda dominado pelos dinossauros, pois o grande asteroide que teria provocado a extinção destes gigantes pré-históricos acabou passando bem próximo dali. E como a vida para eles seguiu normalmente, nesse mundo alternativo surgiu então a improvável estória de amizade entre o desengonçado dinossauro Arlo e o menino selvagem Spot, que juntos passarão por poucas e boas na épica jornada de superação de volta para casa. O Arlo, a propósito, foi o terceiro filho de uma família trabalhadora, que tinha uma grande fazenda para cuidar, e onde o pai liderava as plantações e as colheitas. Entretanto, ao contrário dos irmãos mais espertos, ele era o menor, o mais desengonçado e o mais medroso, e a partir daí a estória se desenrola, mas como isto não é uma resenha sobre a animação, vou me ater apenas às 4 reflexões que pincei a partir de algumas cenas.
São elas:
1- O resultado do trabalho em equipe é o espelho da liderança
O pai do Arlo sempre foi um trabalhador incansável e, assim que percebeu que ele não teria o mesmo desempenho dos irmãos, não só passou a lhe dar mais atenção como também lhe deu grandes desafios – mas não pelo fato de gostar mais dele do que dos outros, mas sim porque sabia que se ele se tornasse tão bom ou melhor que os seus irmãos a família ficaria ainda mais forte para os desafios que viriam pela frente. Como líder, identificou a peça aparentemente mais fraca (e óbvia) do time e, como acreditava que ela tinha potencial, tratou logo de entender o quê que de fato estava por trás de toda aquela “baixa produtividade”. Ao identificar a causa raiz (o medo), começou a trabalhar para ajudá-lo a superá-lo de forma que ele começasse a performar o quanto antes no mínimo conforme o esperado por todos do time, pois disto dependia tanto a sobrevivência da família como a própria vida na fazenda daí em diante.
2- “Quando você supera o medo, encontrará coisas lindas do outro lado”
Desde aquela época o pai do Arlo também já sabia que o medo seria o grande ladrão de sonhos do universo e, ao identificá-lo rapidamente como predominante no dia a dia do filho, arregaçou as mangas e foi mostrar na prática para ele como começar a superá-lo – e que, aliás, foi uma das cenas mais bonitas do filme. Além de dizer-lhe algo parecido com a frase em negrito lá em cima, foi lado a lado com o filho para o campo não só para lhe incentivar e mostra-lhe de que era capaz, mas principalmente para provar que muitas vezes tememos o desconhecido justamente porque não acreditamos em nossas próprias forças. E, quando conseguimos romper esta barreira interna, poderemos constatar não só que muitas vezes os leões que estão nos atormentando nem são tão bravos assim, como também que a sensação de superação e de realização dos nossos objetivos estão entre as coisas mais lindas que poderão existir.
3- Fazer algo grandioso para deixar a sua marca
Por conta de feitos realizados, toda a família já tinha deixado a marca (no caso, a “pata” de cada um) impressa no grande silo de armazenamento de comida que fora construído pelo pai, menos ele. E agora, como deixar a sua marca? Mas, afinal de contas, o quê seria a sua marca? Um livro admirado por meio mundo ou apenas pela sua família? Uma ação social de alto impacto ou que impactou apenas uma criança? Um(a) filho(a)? Uma casa? Um blog? Um talento especial reconhecido pela família ou pelo mundo? Confesso que quando o pai do Arlo começou a incentivar que todos fizessem algo grandioso para deixarem as suas marcas, como foi a própria construção do silo, comecei a me questionar tanto sobre isto que quase perdi a atenção no desenho – quase. Relaxei, mas ao final este pensamento voltou a martelar a minha cabeça, mas ainda não cheguei a nenhuma conclusão – o que também é bom, pois estou fazendo algumas pesquisas e poderemos desenvolver mais sobre isto num outro artigo. Entretanto, a reflexão permanece no ar: qual será a marca que você deixará neste mundo?
4- Se quiser ir rápido, vá sozinho. Se quiser ir longe, vá acompanhado.
O clássico provérbio africano resume bem o que é o filme, pois a amizade desenvolvida entre o Arlo e o Spot ao longo da jornada nos mostrou de um forma bem poética o poder que há num grupo para conseguir alcançar os objetivos. E que as diferenças entre os indivíduos, por maiores que possam aparentar num primeiro momento, na verdade podem se tornar justamente os encaixes perfeitos numa grande complementaridade, que é o que torna o poder do grupo muitas vezes maior do que a força de cada indivíduo em si – e será justamente este o motor turbinado que os levará para cada vez mais longe.
E você, o quê achou? Que outra animação ou filme você viu recentemente que também tinha reflexões interessantes sobre a carreira e a vida?
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