– Que sorte, hein?
Pensei, enquanto assistia ao ótimo documentário sobre o lendário e fascinante astrólogo Walter Mercado na Netflix.
Ele começou como dançarino e seguiu a carreira como ator, conseguindo alguns papéis na televisão porto-riquenha.
Certo dia, faltou um dos convidados do programa que estava entrando no ar.
Um dos diretores, então, aproveitou que ele estava lá no estúdio e chamou-o para “tapar o buraco”.
– Ué, mas por que ele?
Porque ele sempre falava de signos com todos no estúdio.
E o diretor, com toda a pressão que caía sobre a sua cabeça naquele momento, achou que isto seria uma boa ideia para ocupar aqueles 15 minutos.
– Vai lá e fala sobre isso.
Com aquele jeito único e peculiar, ele foi lá e hipnotizou a todos.
A repercussão foi excelente e, no dia seguinte, chamaram-no de volta para transformar esses 15 minutos num quadro fixo do programa.
E assim abriu-se o caminho para o estrelato, no qual ele acabaria se transformando no mais famoso e mais assistido astrólogo do mundo.
– Que sorte, hein?
Pois é.
O acaso trabalhou bem para mexer esses pauzinhos, pois se ele não estivesse na televisão naquela hora e o tal convidado não tivesse faltado, talvez o diretor tivesse arrumado outra solução.
Ou, ainda, e se ele tivesse recusado?
A sua carreira, talvez, teria seguido de outra forma e aquele tapa buraco teria sido apenas mais um a passar despercebido num dia qualquer naquele canal.
Entretanto, ele resolveu encarar o desafio e aproveitou a oportunidade inesperada, no exemplo típico de estar no lugar certo, na hora certa.
E o que seria apenas um “quebra esse galho aqui para mim por favor”, mudou a sua vida para sempre.
E se for para o lugar certo esperar a hora certa?
Há também exemplos de pessoas que foram atrás do lugar certo e ficaram apenas aguardando a janela de oportunidade abrir-se.
Foi o caso do genial Mauricio de Sousa, o criador da Turma da Mônica.
Ele desenhava desde pequeno, trabalhava nos negócios da família no interior de São Paulo, mas o seu sonho era ser desenhista.
Um dia, juntou todos os seus desenhos e resolveu ir atrás deste sonho na capital paulista.
Mostrou os desenhos em todos os jornais onde conseguiu ser recebido e nenhum deles quis saber desses desenhos.
Entretanto, ao invés de voltar para casa triste porque a sorte não lhe havia sorrido, resolveu seguir o conselho de um jornalista que tinha visto o seu trabalho.
Se o melhor lugar para um desenhista trabalhar era dentro dos jornais e se era muito difícil ser contratado como desenhista, então ele deveria dar um jeito de ser contratado em um jornal para fazer QUALQUER coisa.
Ele mudou a estratégia e acabou arranjando emprego como… repórter policial!
Pois é.
Enquanto trabalhava com o que não gostava, continuou desenhando e mostrando os seus desenhos para todos na redação.
E, curioso que é, aproveitou para conhecer como eram os contratos que o jornal fazia com as empresas estrangeiras para publicar no Brasil as tirinhas de personagens famosos mundo afora.
Aprendeu in loco pela visão do contratante como eram negociados esses direitos de publicação e as comissões que eram pagas.
E continuou desenhando e fazendo as suas reportagens.
Até o dia em que a janela de oportunidade se abriu.
Uma historinha do Bidu e do Franjinha foi publicada, a Turma da Mônica ganhou corpo e transformou-se nesse colosso maravilhoso que é hoje.
Ah, e ele também passou a ser referência no controle artístico da sua obra, o que foi fundamental para o crescimento da sua empresa.
Controle este, aliás, que o Walter Mercado não conseguiu administrar direito (ou foi mesmo enganado?) e acabou perdendo tudo.
Enfim, vida que segue.
Sorte é quando o preparo encontra a oportunidade
Já dizia Max Gunther que a sorte é “um evento ou série de eventos, aparentemente fora de nosso controle, que influencia(m) nossas vidas”.
Tanto no primeiro exemplo em que o acaso jogou a oportunidade no colo do Walter, como no segundo em que Maurício foi para o que talvez fosse o lugar certo para “esperar” por ela, em comum havia o fato de que ambos estavam preparados.
Afinal, não diz o ditado que sorte é quando a preparação encontra a oportunidade?
Bingo!
Como nestes dois exemplos já citados, há milhares de outros casos de aleatoriedades que tiveram finais felizes.
Entretanto, nunca saberemos dos casos que não deram certo porque ninguém percebeu o “sinal” e, então, nada aconteceu.
Por isso que é importante abraçar o acaso, estar aberto ao novo e ficar atento à nossa volta, mantendo-se sempre em movimento.
Afinal, nunca saberemos quando entrará em campo o tal fator “sorte”, que poderá mudar as nossas vidas para sempre ou, então, deixá-las um pouco mais fácil.
Mas podemos, sim, tentar dar uma mãozinha para o acaso, né?
Pensando nisto, listei aqui 3 ações que só dependem de nós e que podem facilitar a vida do acaso para quando ele resolver colocar a sorte em nosso caminho.
3 ações para facilitar a vida do acaso
1- Esteja presente
“Para pescar um peixe grande é preciso entrar no mar”, como dizia o Marcel Telles (Ambev, AB Inbev) no livro Sonho Grande.
E aqui temos 2 exemplos de pessoas que estavam no mar e o acaso tratou de ir lá buscá-las.
Christopher Little era um dos agentes literários que estava listado num exemplar do The Writer´s and Artists´ Years Book na biblioteca pública de Edimburgo.
Em 1995, a então desconhecida escritora J.K.Rowling, que teve seu livro Harry Potter e a Pedra Filosofal recusado por um agente, procurava um novo agente nessa lista.
Quando seus olhos encontraram um tal de Mr. Little, cujo nome evocava um dos personagens de um dos livros do filho dela, ela resolveu entrar em contato.
Ele leu os três primeiros capítulos, aceitou trabalhar com ela e depois conseguiu vender os primeiros direitos de publicação do livro na Inglaterra – e o resto é História com H maiúsculo.
(A propósito, ele faleceu no começo de 2021).
Situação parecida aconteceu com Bernie Taupin, que escrevia letras de música e divulgava seu trabalho em alguns estúdios na Inglaterra.
Certo dia, um pianista e cantor desconhecido de barzinhos, chamado Reginald Dwight, foi fazer um teste num estúdio.
Como disse que não gostava de escrever letras para as suas músicas, a atendente pegou aleatoriamente um envelope de “letristas” e lhe entregou.
Poderia ter sido qualquer um, mas naquele envelope estavam os contatos do Bernie.
Eles, então, iniciaram uma parceria de sucesso que já dura desde 1967, ele adotou o nome Elton John e transformou-se num dos músicos de maior sucesso da história, que já vendeu mais de 300 milhões de discos.
Se a internet (como conhecemos hoje) existisse naquela época, possivelmente o primeiro agente da J.K Rowling estaria no Linkedin, Walter Mercado teria um canal no Youtube, o parceiro do Elton John e o Mauricio de Sousa estariam no Instagram divulgando os seus trabalhos.
Afinal, a internet é o local onde procuramos tudo sobre quase tudo e, por tabela, um dos locais mais propícios para o acaso atuar.
Mesmo que você peça indicação de algum serviço ou profissional na sua rede de contatos, é inevitável ir dar uma espiada no google e nas redes sociais.
E, da mesma forma que você pesquisa, você também é pesquisado.
E o que aparece sobre você?
Se ainda não tinha parado para pensar sobre isso, então está na hora de rever os seus conceitos.
E começar a produzir conteúdo online, que é grátis e só depende de você, é uma forma eficaz de ajudar os outros e ampliar a sua presença neste universo digital, dando assim uma mãozinha extra ao acaso por aumentar as chances dele esbarrar contigo por aqui.
Se já tinha pensado sobre isto, mas ainda está inseguro para dar o primeiro passo, este meu curso poderá ajudá-lo (clique aqui). 😉
2- Esteja atento à sua intuição
Outras vezes há sinais à nossa volta, mas que na maioria das vezes passam despercebidos a não ser que algo esteja no nosso radar.
E é aí que entra a intuição.
Como o curioso caso do empresário Cliff Burnstein, que é sócio da Q Prime, uma das maiores gestoras de bandas/músicos no showbiz.
Ele e o sócio estavam em Londres, num certo dia em 1984, e resolveram entrar numa loja de discos.
Ali havia um par de pessoas vestidas com camisas desenhadas a mão do Metallica, que ele já tinha ouvido falar vagamente.
Ficou intrigado com o porquê de pessoas personalizarem camisas na Inglaterra de uma banda americana pouco conhecida e foi atrás dessa banda.
Curtiu, fechou contrato com eles e a sua empresa administra até hoje a carreira de uma das bandas mais famosas e lucrativas da história da música.
E o mais curioso ainda é saber que outra aleatoriedade do destino já havia caído literalmente em suas mãos.
Seu primeiro emprego foi na gravadora Mercury Records e, numa certa segunda-feira, uma secretária lhe pediu que ouvisse algumas músicas de uma banda canadense desconhecida e desse um parecer sobre se valia a pena gravar o disco e investir na banda.
O detalhe é que isto nem era a sua função, mas como ele era o único que estava disponível no escritório e aquele era o último dia para a gravadora decidir se assinava com a banda ou não, lá foi ele.
O disco era “apenas” do Rush, que ele curtiu na hora, a gravadora lançou o álbum e eles se transformaram numa das bandas mais veneradas da história do rock.
3- Permita-se abraçando o novo
Como o Walter Mercado, que não pensou duas vezes e foi no melhor estilo “quem sabe faz ao vivo” para aquele desafio que acabara de cair no seu colo.
Afinal, quantas vezes recusamos desafios profissionais por medo ou vergonha com a desculpa de que não estamos preparados?
Ou ainda: a recusa para fazer lives ou gravar podcasts porque “não sei falar para a câmera” ou “minha voz é horrível”?
Mas, cá entre nós, se você foi convidado é porque tem algo a fazer, a dizer e a mostrar, certo?
Então, vá!
Encare o novo, abrace-o e trate com carinho, pois tudo que é novo já faz seu cérebro borbulhar.
Além do que, poderá trazer também uma oportunidade disfarçada que te levará, no mínimo, para um novo patamar de experiência e aprendizado.
Ou mudará a sua vida para sempre.
Ou a deixará mais fácil.
Enfim,, como já dizia aquela musiquinha do Skank:
“Se a sorte lhe sorriu
Porque não sorrir de volta?”
😊
Obs. Todas as referências musicais e da J.K.Rowling estão no livro Rockonomics de Alan B. Krueger e as do Mauricio de Sousa tirei do Mauricio de Sousa – Biografia em quadrinhos e de uma entrevista, que não recordo onde vi.
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